O conceito de excesso de positividade, originariamente criado por Jean Baudrillard, mais atualmente aprofundado e atualizado, sobretudo pelo Filósofo Byung-Chul Han, tem um papel importante na análise geral do ambiente digital e, particularmente das redes sociais.

Entre muitos outros pontos de reflexão, a teoria de que existe um excesso de positividade considera nocivo que as pessoas só transponham para a sua vida digital o que é positivo e o que pensam que é positivo nos influencers que seguem.

Por exemplo, se a Cristina Ferreira, ou o Cristiano Ronaldo, ou outros notáveis e famosos só mostrarem, no Instagram, ou no Facebook, a vida de suposta felicidade que levam, isso faz com que quem não consegue ter uma existência semelhante, se sentia frustrada. Quando a Cristina Ferreira anuncia, a 10 mil pessoas, que usa uns sapatos da marca “Louboutin”, cujo preço foi, há uns anos, 490 euros, a compra de tais objetos da referida marca e dentro do mesmo preço passa a ser um objetivo da maioria dos seus seguidores. Eles não serão felizes enquanto não conseguirem ter o mesmo.

Ora, numa realidade onde não se mostra a frustração, a tristeza, a negatividade, quando ela acontece não se possuem estratégias para lidar com estes sentimentos, que são, como todos sabemos, parte da vida de todos os seres humanos, obviamente as repercussões são nefastas para muitos que vivem intensamente a vida destas personalidades e se sentem próximas delas através do digital. Quem está na redoma desta sociedade marcada por um excesso de positivismo só consegue encontrar a felicidade quando atinge algo de semelhante aos seus ídolos, mostrando que tem capacidade de seguir as tendências daqueles que são a sua fonte de inspiração.

Para a vida cristã esta propensão crescente para uma busca, um desejo de absoluta felicidade, também é prejudicial, já que quem tem como filosofia de vida esta demanda, não encontra, nem reconhece que deve haver espaço para a dúvida, para a interrogação, para a incerteza, para o questionamento. Alguém que não tem sempre um sorriso nos lábios e que não é permanente alegre, não pode ser de Cristo. Pomos de lado a dimensão da cruz, que foi carregada por Nosso Senhor e que não representa somente o Seu sofrimento, mas o nosso, motivado pelos pecados que devemos reconhecer e evitar.

A aparência sobrepõe-se à essência. Porque a presença de Cristo está na vida concreta e na superação dos fracassos; não está na superficialidade de uma vida vivida para que o mundo acredite que está tudo bem, que somos todos bons e felizes, mas, no fundo das nossas consciências, dos nossos afetos, da nossa inteligência, temos um vazio enorme, um vazio doloroso, porque, para além de nos centralizarmos num mundo de faz de conta, vivemos uma vida que não é a nossa. Convirjamos a nossa atenção e energia naquele que nos compreende como verdadeiramente somos. É Ele a felicidade e a única e total positividade.