II – Os sinais e a natureza humana

1 – Os sinais e os símbolos ocupam um lugar de relevo na vida dos seres humanos. Se olharmos com atenção para o nosso viver de todos os dias, havemos de verificar como quase tudo, se explica através de sinais. Poder-se-ia mesmo afirmar que não temos outro modo de nos exprimirmos se não por sinais. É que, bem vistas as coisas, até as palavras que usamos na escrita e na fala são sinais, que é necessário saber decifrar. Podemos ouvir falar um japonês na sua língua materna, se não conhecermos esse idioma, nada entendemos; podemos encontrar um livro em chinês, mas se não soubermos essa língua, nada captamos. Trata-se de sinais que, por não conhecermos a língua, não sabemos quais são as realidades significadas.

Mas deixemos, por agora, os sinais das línguas, e prestemos atenção apenas aos sinais que não são palavra. Tais sinais, normalmente, são realidades físicas, sensoriais, como a água, o vento; ou outras realidades simbólicas, como uma bandeira, um emblema, etc.

Para captar o significado destes e de outros sinais, acessíveis à natureza humana, precisamos de estar minimamente identificados com o sentido que uma determinada cultura lhes atribui, porque uma coisa pode ter um significado para os Europeus e não ter, por hipótese, o mesmo significado para um africano ou um asiático.

Seja como for, o homem tem necessidade de sinais e símbolos para comunicar e receber comunicações. Caso contrário será um solitário sobre a terra.

Pela linguagem das palavras, ou pela linguagem dos sinais, das acções e dos símbolos é que somos seres humanos em comunicação. E, sem comunicação, não haveria sociedade.

2 – O homem é um ser "naturalmente religioso", ou seja, as suas atitudes e comportamentos religiosos estão em consonância com a sua natureza humana. Não admira, por isso, que "as grandes religiões dêem testemunho, muitas vezes de modo impressionante, do sentido cósmico e simbólico dos seus ritos religiosos" (CIC1149). A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos, o mar e o firmamento, tudo pode ajudar a estabelecer uma relação com a divindade, tudo pode falar de Deus, tudo pode simbolizar a sua grandeza, o seu poder ou a sua proximidade e bondade. Muitos sinais poderão tornar, tudo isso, mais acessível. Quer dizer, portanto, que usamos a nossa linguagem de palavras e de sinais, não só para nos relacionarmos com os outros humanos, mas também com o próprio Deus. E no âmbito do religioso, quando os sinais e os gestos fazem parte da cultura comum de um determinado grupo humano, tornam-se mesmo uma espécie de expressão de culto comunitário, capaz de congregar todos os membros que dele fazem parte. Afinal, a religião é também um grande meio de socialização.

*Bispo Emérito do Algarve