O "ar" como sinal
1 – Continuando a nossa reflexão sobre o significado de alguns sinais ou símbolos, vamos hoje debruçar-nos sobre um outro sinal fecundíssimo, o sinal do "ar". Quem poderá viver sem respirar? Os órgãos de respiração dos seres vivos são distintos de espécie para espécie, mas sem eles nenhum ser vivo pode viver. Não respiram do mesmo modo as plantas, os peixes, as aves, os mamíferos, entre os quais se situa o homem. Mas todos eles precisam de oxigénio para sobreviver e de órgão apropriados para o absorver.
Quando abordávamos o símbolo da água, referimos um dos célebres sábios de Mileto que, nas suas congeminações filosóficas, admitia a água como o princípio de todos os seres existentes. Nem todos pensavam como Tales. Membro da mesma escola, Anaxímenes (séc.VI a.C.) também se inquietava com o primeiro princípio de todos os seres, e preferiu dar a primazia ao "ar". Este pensador comparava o mundo a um animal gigantesco que respira, afirmando que nada pode viver sem "ar". Mais: ele considerava a "respiração" como a "alma" e a "vida" do mundo. Admitia mesmo que o "ar" é o princípio de todas as coisas, das suas mudanças e dos seus movimentos. É um "princípio de vida".
2 – Dois séculos mais tarde, ainda havia quem considerasse o "ar" como princípio de tudo, a ponto de o considerar como ser incriado, inteligente, regulador e dominador de todas as coisas. Assim pensava Diógenes, membro da escola cínica.
Com estes pensadores das velhas escolas gregas, somos convidados a reflectir sobre a importância do "ar" na nossa vida terrena. De facto, para podermos valorizar este fenómeno, tão natural que nem nos damos conta da sua existência, a não ser quando ele nos falta se, por doença ou sufocação, sentimos a sua necessidade. Então, sim, sentimos a vida a desaparecer. Vivem as plantas, porque aspiram pelas folhas, produtoras de oxigénio, o ar de que precisam; vivem os peixes, dentro de água, absorvendo pelas guelras o oxigénio de que carecem; vivemos nós, dotados de um complexo aparelho respiratório, fundamental para a nossa sobrevivência, porque absorve o ar que a natureza nos fornece.
Sem cairmos no exagero dos pensadores das escolas pré-socráticas de identificação do "ar" com o primeiro princípio de todas as coisas, não há dúvida que, pela importância do ar para a vida, temos de lhe atribuir um grande valor, considerando-o como um dos elementos essenciais à nossa saúde e à nossa sobrevivência. Daí o respeito que estes elementos da água e do ar nos merecem; daí a importância no cuidado a dar à qualidade da água e à qualidade do ar que respiramos. Está na nossa mão prestar uma atenção cada vez maior a estes elementos da natureza, sem os quais a vida corre perigo.
*Bispo Emérito do Algarve