
O Papa Francisco contou o seguinte, na sua homilia do dia de Páscoa, proferida perante milhões de pessoas e difundida pelo mundo inteiro, através dos media:
«Ontem telefonei a um jovem que sofre de uma doença grave, um rapaz culto, engenheiro, e falando, para dar um sinal de fé, disse-lhe: «Não há explicações para o que te acontece. Olha para Jesus na Cruz, Deus fez isto com o seu Filho, e não há outra explicação». E ele respondeu-me: «Sim, mas Ele perguntou ao Filho, o qual disse sim. A mim não perguntou se eu queria». Isto comove-nos, não pergunta a nenhum de nós: «Mas estás contente com o que acontece no mundo? Estás disposto a carregar esta cruz?». E a cruz vai em frente, e a fé em Jesus diminui.»
É na verdade, muito duro, em muitas circunstâncias, aceitar o que nos acontece, como parte do plano de Deus para a nossa salvação, como parte dos desafios que Ele nos coloca para que, ultrapassando-os, fiquemos mais perto dele.
O Papa, com as suas palavras, obriga-nos tantas vezes a meditar em coisas aparentemente simples, mas que no quotidiano nos fazem questionar sobre a nossa relação com Deus. Mas nesta Páscoa, esse questionamento foi verdadeiramente intenso.
As experiências da doença, da morte, da ausência de capacidade para ser independente são sempre momentos fraturantes, pois é neles que ou crescemos verdadeiramente como seres humanos, capazes de olhar o outro e o seu sofrimento como parte das nossas vidas, como algo que podemos ajudar a minorar, se não nos acontece diretamente; ou nos questionamos, como o jovem de que Francisco fala, que sente na pele e no coração a amargura de não ser como os demais, de não poder viver aquilo que supostamente é próprio da sua idade. Quantos, ao nosso lado não passaram e passam por isto?… Quantos de nós não nos sentimos assim, aqueles que não têm valor, que são ridicularizados, que nunca são vistos como capazes?!… Que somos doentes da alma, porque não somos são somente perante o olhar enfermo de quem não nos consegue enxergar de verdade?!…Quantos????!!!….
Francisco fala dessa solidão, desses “descartados”, que são olhados ou com piedade, ou com frieza e distância; dos que choram, mas em silêncio e na solidão; dos que se sentem impotentes para resolver os seu problemas e dilemas e de fazer-se entender pelos outros, mas diz, como Cristo disse e mostrou, que é deles a Esperança, porque Jesus, colocado de lado e fechado no sepulcro, vive e a pedra que foi abandonada no Getsemani, é um sinal de vida e de vida eterna, um sinal de que nada, nem mesmo uma simples pedra, é indiferente e Deus e aos Seus Olhos. Até para ela Ele ressuscitou.
Francisco diz: «Hoje a Igreja continua a dizer: «Para, Jesus ressuscitou». Isto não é imaginação, a Ressurreição de Cristo não é uma festa com muitas flores. É bonito, mas não é só isto, é mais: é o mistério da pedra descartada que acaba por ser o fundamento da nossa existência. Cristo ressuscitou, eis o que significa.»
E prossegue: «Nesta cultura do descarte, onde aquilo que não serve segue o caminho do usa e deita fora, onde aquilo que não serve é descartado, aquela pedra rejeitada é fonte de vida».
E a Páscoa de Francisco é, naturalmente, a Páscoa da Mensagem do Ressuscitado: temos de ser capazes de suportar os desafios, as dores, de levar a cruz, porque «também nós, pequenos seixos por terra, nesta terra de dores, de tragédias, com a fé no Cristo ressuscitado, encontramos um sentido, no meio de tanta calamidade, o sentido de olhar para mais longe».
E a Páscoa será todos os dias, quando rolarmos a pedra que nos tolhe os movimentos e o coração e a abraçarmos, logo depois, porque ela nos ajudou a subir um pouco mais na escada para o céu!
Santa Páscoa a todos! E Esperança no Ressuscitado!