A Comissão Municipal Administrativa da cidade de Faro tomou posse no dia 19 de Outubro de 1910 e, na semana seguinte, entra logo em acção. No dia 27, pelo ofício n.º 352, pede a cedência da casa anexa ao Paço Episcopal (com frente para a Rua do Município) para escolas. O edifício estava reservado pela Diocese para a residência do Cónego Provisor do Bispado e, numa das dependências, o cónego Franco, secretário da Câmara Eclesiástica, tinha lá também instalada a tipografia do Bispado. O pretexto para o pedido da cedência foi uma causa justa e humanitária: a criação de novas escolas primárias (a febre republicana foi criar escolas sem professores qualificados). Porém, visava sobretudo silenciar a voz da Igreja. A tipografia não podia continuar a difundir "propaganda reaccionária". O Bispo estava disposto a ceder uma parte da casa para esse efeito mas, como em breve ia ser publicada a Lei da Separação, só depois de discutido o assunto nas Câmaras Constituintes é que se poderia resolver a pretensão da câmara, respondeu o Bispo.

Entretanto, o Subinspector Escolar de Faro pediu à Comissão Municipal Administrativa a criação de duas escolas centrais e o município não tinha casas para o efeito. A Comissão requer ao Governo a cedência do antigo 1iceu, um "edifício amplo, arejado e muito próprio para nele se instalar uma das escolas", pois até já tinha servido de liceu. Além disso, solicita também a casa do Provisor da Diocese. Também o director da Escola de Habilitação para o Magistério Primário pediu o edifício das irmãs Hospitaleiras para a instalação da escola.

Em 10 de Agosto de 1911, a Comissão Municipal Administrativa aprova que se envie ao Ministro da Justiça uma ""representação" para a cedência provisória do Seminário. O major do 3.º Batalhão de Infantaria n.º 33 indicou ao município o Seminário para o aquartelamento do seu batalhão. Domingos Joaquim Aguieiro, em nome da Comissão Administrativa, a 15 de Agosto de 1911, envia uma representação ao Ministro da Justiça. Pede a cedência do edifício, ainda que com carácter provisório, pois o Seminário não volverá jamais a funcionar, porque a isso se opõe a índole e a geral falta de crenças acentuadamente religiosas deste povo algarvio". A cedência do Seminário não era só para nele se instalar um quartel. A Comissão Administrativa desejava também o edifício da Diocese para um Internato que fora criado com a elevação do Liceu de Faro a Central. A Câmara insiste numa resposta urgente do Presidente do Conselho de Ministros e escreve ao Ministro da Guerra para suspender o envio dos oficiais do Batalhão n.º 33 para Lagos. Nomeou até dois vereadores para irem a Lisboa resolver com urgência "tão importante assunto" para este batalhão ficar em Faro.

Passado um mês a Câmara insiste no pedido e envia ao Ministro da Justiça mais um telegrama:

Ex.mo Ministro da Justiça

A elevação do Liceu desta cidade a central e criação do internato são, sem dúvida, benefícios de mais alto valor, para a província e instrução. Para o estabelecimento do Internato, actualmente a cargo Câmara Municipal, pedir pela cedência edifício Seminário de há muito desalojado e já hoje desembaraçado de arrolamento. Governador Civil e esta Câmara têm renovado pedido e instado imediata cedência pois que está aberta matrícula para admissão Internato e próxima abertura liceu. Parte mesmo edifício está destinado para o aquartelamento do terceiro batalhão do 33 mas como a cedência solicitada ainda não foi efectuada, hoje baixou ordem de marcharem para Lagos todos os oficiais, ordem esta alarmou esta cidade, obrigando os seus representantes a virem junto de V. Ex.ª a pedir se digne ordenar que seja imediatamente entregue a esta Câmara o edifício seminário. Vice-Presidente da Câmara – Domingos Joaquim Aguieiro

A resposta não se fez esperar. O Director Geral do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, comunica ao Governo Civil de Faro para dar cumprimento ao Decreto de 16 de Setembro que manda ceder provisoriamente à Câmara Municipal de Faro o edifício do Seminário. A Comissão Administrativa, entretanto, abonou o dinheiro necessário para a reparação e adaptação do Seminário e o Ministro da Guerra agradeceu "tão valioso oferecimento".