Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Foi ontem à tarde inaugurada, no reaberto espaço da antiga capela do Paço Episcopal de Faro, a “Exposição para a Difusão do Conhecimento – Núcleo Histórico da Imprensa de Gutenberg e do Pentateuco de Faro”, uma mostra que, para além da vertente histórica e cultural, tem ainda associada a dimensão interreligiosa.

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A iniciativa – ligada à edição do “Pentateuco” (conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio), levada a cabo pelo judeu Samuel Gacon em 1487 e que marcou o início da imprensa em Portugal – é promovida conjuntamente pela Diocese do Algarve, pela Fundação Portuguesa das Comunicações, pelo Círculo Teixeira Gomes – Associação pelo Algarve, pela DFK & Associados SROC, pela editora ‘Sul, Sol e Sal’ e pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.

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O presidente do Círculo Teixeira Gomes, Paulo Neves, explicou na sessão de abertura o que pretende a iniciativa como “espaço de afirmação de Faro no país” no “cruzamento de culturas e civilização”: “um encontro de culturas, a tolerância, os fundamentos da nossa civilização, que fez de Faro o berço da imprensa em Portugal, com o Pentateuco em hebraico”, afirmou, lembrando que Faro “já antes tinha sido o berço da cristandade, com a Igreja de Ossónoba”. Paulo Neves considerou a Igreja algarvia como “a diocese mais antiga daquilo que viria a ser depois o território português”. “Outras regiões tentarão obter este título porque têm mais força do que nós, porque o afirmam de há muitos anos, mas nós, em Faro, temos a razão do nosso lado. Achamos que Faro e a Igreja de Ossónoba é a Igreja Primaz de Portugal”, defendeu.

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Por outro lado, a presidente da Fundação Portuguesa das Comunicações destacou o “conjunto de boas vontades” que permitiram levar a cabo a exposição. “É no âmbito da nossa missão, e com muito orgulho e honra, que estamos aqui para partilhar e divulgar algum do nosso património e da nossa história”, afirmou Teresa Salema, lembrando que com o prelo de Gutenberg nascia o “advento da impressão e da difusão do conhecimento”.

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O coordenador nacional do Ano Europeu do Património Cultural 2018 destacou o “caráter pioneiro de Faro na história da comunicação europeia e mundial”, lembrando que “a história da comunicação é a história da humanidade”.

Em declarações aos jornalistas, Guilherme d’Oliveira Martins considerou a inauguração daquele espaço “essencial para a cidade de Faro e para o país”. “Estamos a falar das origens da imprensa e essas origens não surgem por acaso aqui no Algarve e aqui em Faro. É indispensável que, no futuro próximo, chamemos cada vez mais a atenção para a extraordinária riqueza cultural que o Algarve tem. E essa riqueza cultural decorre do facto de sermos aqui uma encruzilhada de influências diversas”, afirmou, destacando também o “diálogo entre culturas” e o “diálogo interreligioso” como “uma realidade da sociedade contemporânea”. “O Algarve foi sempre um lugar de diálogo e um lugar de encontro de culturas e é isso que tem de ser aprofundado”, defendeu, considerando que a região “tem que aproveitar mais e vai aproveitar mais, de certo, nos próximos tempos essa riqueza cultural”.

Como exemplo, Oliveira Martins lembrou que “o Algarve é neste momento repositório da Escrita do Sudoeste que é uma das escritas mais antigas que está por ainda decifrar” e mostrou-se certo de que “o Algarve vai ter, certamente, no futuro uma enorme importância no domínio cultural”.

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Também o presidente da Câmara de Faro se congratulou com a exposição. “Mais importante do que estarmos aqui hoje é termos acesso a um conjunto de elementos que fazem parte da nossa identidade, da nossa história e da nossa cultura. A nossa história é riquíssima, a nossa cultura é riquíssima e hoje celebramos mais um pouco dessa mesma história”, afirmou Rogério Bacalhau, desejando que no futuro se possa “aprofundar e trazer para o conhecimento geral muitos destes temas”. “Faro tem muito para mostrar e em termos da nossa identidade e da nossa cultura”, assegurou.

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O bispo do Algarve destacou que a “total adesão” da diocese algarvia “desde a primeira hora” àquela iniciativa visou “contribuir para dar a conhecer uma expressão notável do património” da cidade de Faro. D. Manuel Quintas lembrou que a impressão do “Pentateuco” fez de Faro a “cidade-berço da imprensa em Portugal”, dali se difundindo para outras partes pela utilização do “prelo de Gutenberg”. Na mensagem de boas-vindas que integra a exposição, o prelado lembra ainda ter sido aquela invenção que “também deu ao mundo a primeira Bíblia impressa, (1455), alargando sempre mais a sua divulgação”.

No mesmo texto, o bispo do Algarve recorda que o primeiro livro impresso em Portugal, em torno do qual se realiza a exposição, era o “único exemplar conhecido” que “integrava a biblioteca do bispo” D. Fernando Martins Mascarenhas – à frente da Diocese do Algarve entre 1594 e 1616 –, saqueada em 1596 pelo conde de Essex, Robert de Devereux. “É como que «o regresso possível a casa»”, considera D. Manuel Quintas, que realçou também na inauguração a abertura do Paço Episcopal para aquela iniciativa. “A casa dos bispos do Algarve abre as suas portas para vos acolher e acolher esta exposição no espaço da sua antiga capela, acolhendo também quantos à visitarão a partir deste dia”, observou.

A inauguração contou ainda com a apresentação de uma publicação de quatro volumes sobre os 500 anos da imprensa e das artes gráficas em Portugal, intitulada “As artes gráficas e a imprensa em Portugal, séculos XV – XIX”, da autoria de José Pacheco, que teve lugar na sala do trono no Paço Episcopal.

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Com entrada pela rua do município, a exposição inclui a edição ‘fac-simile’ do “Pentateuco” produzido pela editora ‘Sul, Sol e Sal’ e uma réplica do prelo de Gutenberg, cedida pela Fundação Portuguesa das Comunicações, semelhante à que terá sido usada em Faro pelo impressor judeu.

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A mostra tem ainda patente um “scriptorium medieval”, propriedade da Câmara do Porto, mas cedido pela Santa Casa da Misericórdia de Coimbra e ali integrado através da Santa Casa da Misericórdia de Faro no âmbito das comemorações dos seus 500 anos. O cenário retrata as técnicas e os objetos usados pelos monges copistas para reprodução de textos antes da invenção da imprensa.

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A exposição conta ainda com um telégrafo de Damasquino, de 1879, um dos primeiros serviços de telecomunicações e uma breve alusão à história da escrita desde a pedra coniforme até à atualidade, incluindo uma máquina de escrever Olivetti de 1930 com teclado HCesar, e dois dos primórdios dos computadores pessoais, nomeadamente um ZX Spectrum e um Macintosh, do final da década de 80 do século passado.

Sem prazo limite, a exposição deverá estar patente durante pelo menos seis meses.

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Inauguração da “Exposição para a Difusão do Conhecimento – Núcleo Histórico da Imprensa de Gutenberg e do Pentateuco de Faro”