
O aumento da capacidade de retenção de água e o investimento numa central de dessalinização são medidas que deveriam ser adotadas no Algarve para combater a seca, defendeu o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL).
Em declarações à Lusa, António Miguel Pina adverte que a seca no Algarve passou de “cíclica” a “estrutural”, razão pela qual é preciso “pensar em estratégias de futuro”, nomeadamente, a construção de uma unidade de dessalinização, de uma nova barragem ou o aumento da capacidade das existentes.
O presidente da associação que reúne os 16 municípios algarvios considera que o próximo ciclo de programação de fundos comunitários “deve ter um enfoque grande nesta matéria” e uma “discricionariedade positiva” para o Algarve e outras regiões do país também severamente afetadas pela falta de água.
“Todos nós temos que começar a pensar em estratégias de futuro, porque, ao contrário do que aconteceu até agora, em que a expectativa era a de que a questão da falta de água era cíclica, começa a haver evidências científicas de que a falta de água começa a ser estrutural”, sublinha.
Nesse sentido, António Miguel Pina defende a realização de estudos para encontrar uma solução que permita aumentar a capacidade de retenção de água e, por outro lado, o início do processo de dessalinização, através da construção de uma unidade que permita converter a água do mar em água potável.
De acordo com informação que lhe foi transmitida por um grupo que detém centrais de dessalinização, o também presidente da Câmara de Olhão referiu que “é possível produzir água a um custo semelhante àquele que temos hoje, se houver financiamento comunitário para a construção das unidades”.
O presidente da AMAL lembra que as medidas que têm vindo a ser tomadas até aqui, e “a forma como o sistema estava preparado” no Algarve, serviam para “aguentar entre dois a três anos sem água”, mas esse cenário mudou, e agora a região pode “ter que enfrentar vários anos sem água, ou uma falta de água sistémica”.
Por outro lado, António Miguel Pina defende a atribuição de verbas comunitárias “também para os municípios” e para os “intervenientes” no sistema regional de abastecimento de água, para implementar projetos de diminuição das perdas na rede.
“Se tivermos uma perda média de 35% de água, acho que devia ser um objetivo para o Algarve passar para perdas inferiores a 20%”, disse, acrescentando que isso pode ser feito através da substituição de infraestruturas e implementação de tecnologia de monitorização das perdas.
Na quarta-feira, em conferência de imprensa após uma reunião da Comissão Interministerial da Seca, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, indicou que já estão suspensas novas licenças para captação de água no sul do país e que se expandirá a utilização de águas residuais tratadas em rega e lavagem urbana.
A partir de 30 de novembro, os ministérios do Ambiente e da Agricultura vão começar a reunir-se com representantes dos setores que representam a maior parte do consumo de água: autarquias, agricultura e setor turístico do Algarve, em foco por causa do consumo de água para manter os campos de golfe.