• a propósito da relação pai/filho à distância.

“É meu filho, tem de gostar de mim e pronto!”- dizia-me com ênfase, certo da sua verdade, da sua afirmação e da inabalável segurança que um vínculo de sangue pode dar a uma relação. Dizia-me isto a propósito de uma conversa que tínhamos no momento, onde me explicava a quantidade de vezes que, de longe, liga ao filho e não tem retorno da chamada, das mensagens que não são respondidas, ou da falta de vontade mostrada pelo pequeno em estar, em vir, em corresponder. Estava zangado. O vínculo de pai e de filho deveria ser inabalável e suficiente para não permitir que aquilo acontecesse. Era como que um decreto que, com força de lei, obrigava a que as relações existissem e, depois, fluíssem e se dessem sempre de forma certa. Como que com uma proteção legislativa, tutelar e superior.

Pois é, pensei…. Mas as relações não funcionam por decreto. As relações, essas excelentíssimas teias que unem as pessoas entre si, fortalecem-se no dia-a-dia da vida, nos momentos, nos episódios vividos, nos horários que se gerem na hora, nas zangas que terminam, nos amuos que se esvaem no tempo, no toque, no olhar e na voz. Precisam de uma história em direto, onde as coisas se digam no momento e se saiba que, contadas depois, já não serão bem assim. Nas relações, sobretudo se um dos sujeitos ainda está a crescer, o “diferido” pode acontecer, mas só ocasionalmente e nunca de forma (quase) permanente, acho. O dia-a-dia aperta o laço do afeto, regula-o, medeia-o e deve fortalecê-lo sempre.

Sei que a vida assume muitas formas. Sei que este meu amigo, ama o filho profundamente e que, como muitos outros que conheço, não o tem consigo todos os dias, trabalha longe, vê-o entre temporadas espaçadas e faz o melhor que pode, sabe e consegue. Eu sei. Teve de ser assim. Mas também sei que não poderá nunca descansar à sombra de um suposto vínculo que lhe vai exigir, para que venha a ser um vínculo significativo, criatividade, paciência, inteligência emocional, transparência afetiva e muita, muita persistência.

E a todos os pais e mães que, de alguma forma e por variadíssimas razões têm de fazer um pino monumental para manter, fortalecer, equilibrar e adocicar a sua relação com o seu filho(s), tiro-lhes, aqui hoje, o meu chapéu.