“A dureza das medidas que estão propostas para o próximo Orçamento do Estado, contra as condições de vida dos trabalhadores, quase custa a acreditar. São o resultado de décadas de uma política errada, que não foi feita para defender os interesses do país e do povo, mas para servir os privilégios de uma minoria que se tem servido do poder e do aparelho do Estado”, afirmou Carlos Brito à Lusa.

O antigo dirigente do PCP afirmou que o país “está hoje a sofrer as consequências” dessa política e disse esperar “que as ações e lutas dos trabalhadores, a tomada de posição de diversas forças e entidades políticas, possam ainda levar a uma reconsideração para que algumas medidas propostas, como as que afetam os salários e as reformas, as áreas da Saúde e da Educação, sejam modificadas”.

“A situação chegou a um ponto tal, e as ameaças que pesam sobre o país e a economia são de tal ordem, que mesmo aqueles como eu, que estão em total oposição à proposta de Orçamento do Estado e à política que ela configura, acabamos por desejar que ele passe na Assembleia da República”, afirmou ainda Carlos Brito.

O antigo dirigente do PCP falou à Lusa à margem da apresentação do seu livro de memórias “Álvaro Cunhal – Os sete fôlegos do combatente” em Vila Real de Santo António, que foi feita pelo seu antigo colega no PCP Domingos Lopes.

Lopes considerou que a situação política atual “é da responsabilidade do PS e do PSD, na medida em que apoiam os Planos de Estabilidade e Crescimento, e é de uma gravidade quase nunca vista”.

“O problema não é o Orçamento, mas a ausência de um projeto alternativo a esta política que vem sendo seguida nas últimas duas décadas. Indo por este caminho, é previsível um agravamento da situação económica da população. Pensar que a partir da miséria se pode reconstruir o país é um disparate”, afirmou.

Domingos Lopes defendeu que “é necessário que a esquerda, e a nível popular, através dos movimentos sindicais e das forças sociais, se convirja num projeto de desenvolvimento económico para aumentar a produção nacional, impedir o endividamento e encontrar por esse caminho uma saída”.

Lopes frisou que, “com o empobrecimento da população, a recessão e a depressão que ela acarreta nas pessoas, não é possível imaginar que se possa sair desta situação absolutamente desastrosa que se vive”.

“Estamos perante calculismo do Presidente da República, do Governo e do PSD. Os problemas do país não são atacados para se resolverem, mas para se servirem deles para benefício próprio”, disse.

Lusa