
Foi apresentada no passado sábado à tarde uma monografia sobre a ermida de São Lázaro, hoje mais conhecida como ermida de Nossa Senhora do Livramento, da autoria do historiador algarvio Marco Sousa Santos, na qual o autor explica que o templo “tem pelo menos 500 anos”.

Na apresentação da publicação, que teve lugar na própria ermida, Marco Sousa Santos justificou que “a primeira referência documental à existência” do edifício data de 1518. “Não podia ser mais adequado publicar este livro do que neste ano em que se cumprem cinco séculos história documentada desta igreja”, considerou o historiador.

O autor rejeitou que a ermida possa ter estado relacionada com um hospital de leprosos e, por isso, dedicada a São Lázaro, ao contrário de uma da mesma evocação em Lagos, cuja “documentação mais antiga” sugere essa ligação. “Tanto quanto foi possível apurar nesta investigação, que foi o mais exaustiva possível, não há nenhum indício documental de que alguma vez esta ermida tenha estado relacionada com um hospital de leprosos”, assegurou, lembrando que essa teoria terá sido “difundida por um religioso do início do século XVIII – frei Agostinho de Santa Maria” – que não terá estado em Tavira.


Realçando que a igreja, – “apesar de estar situada na margem oposta daquilo que é o núcleo genético de Tavira, situava-se muito próximo da povoação”, o que não corresponde à regra para a construção dos hospitais de leprosos, construídos “o mais afastado possível” das povoações –, Marco Sousa Santos destacou ainda que o documento da visitação dos membros da Ordem de Santiago em 1518 explica que a ermida “foi erguida pelo povo por devoção”.
O historiador de arte explica então a construção do templo naquele lugar por causa da localização estratégica relacionada com outro motivo: a “criação de um cordão” que tenderia a “proteger a povoação, do ponto de vista simbólico, nomeadamente de peste”, que “era um problema recorrente durante toda a Idade Moderna”. Nesse sentido, Marco Sousa Santos, lembrando a construção da ermida junto a uma “importante via de comunicação para quem entrava em Tavira vindo do sotavento”, defendeu que o cordão seria composto pelas “três ermidas cujos padroeiros estão todos conotados com a proteção contra a peste”: a de São Sebastião, a de São Roque e a de São Lázaro.

O autor disse ainda que outros dos “aspetos interessantes e invulgares” daquela igreja é “o facto de ela, a determinado ponto da sua história, ter mudado de evocação”. “Isso acontece no início do século XVIII, em que uma comunidade de mareantes que se agregava em torno do culto de Nossa Senhora do Livramento, vai fundar aqui uma confraria e essa confraria acaba por tomar posse da ermida que passa a ser conhecida por essa evocação”, explicou, acrescentando que não obstante a mudança do orago, a imagem de São Lázaro permaneceu no altar da capela-mor a lembrar a evocação primitiva.
Marco Sousa Santos acrescentou ainda que, nesta terceira monografia sobre uma igreja do concelho de Tavira, procurou “fazer uma análise de todas as manifestações artísticas que fazem parte do espólio” do edifício e que vão desde a imaginária, aos retábulos, aos ex-votos ou ao que restou de um painel setecentista de azulejos figurativos que terá estado inicialmente colocado num nicho exterior.

O representante da Arandis Editora, que publicou a obra, disse ser “um enriquecimento enorme para a história e para a cultura do Algarve qualquer um dos trabalhos” que o historiador realiza. Nuno Campos Inácio considerou ainda que se está a viver um “momento histórico” com a publicação de novas monografias. “Houve cem anos em que a história do Algarve caiu no esquecimento”, lamentou, considerando que nos últimos anos surgiu novamente “o gosto pela história e pela valorização” do que é do Algarve.
Nuno Inácio desafiou ainda os algarvios a “prestar homenagem a quem se dedica à investigação, estuda e apresenta os seus trabalhos”, lembrando que essa homenagem passa por “adquirir, ler e divulgar a sua obra” que passa a estar disponível nas bibliotecas também para quem não tem meios para a obter.

Congratulando-se com a obra, de 80 páginas, o pároco de Tavira lembrou o interesse que tem manifestado pela “divulgação do património cultural da cidade” e pela “rentabilização turística e económica” das paróquias de Tavira. O padre Miguel Neto disse que a Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve e a nível nacional têm “incentivado à abertura das igrejas”, realçando que isso é também um fator de criação de emprego.