
O projeto “Fotografia, Memória e Identidade” (FMID) do Museu do Trajo de São Brás de Alportel, iniciado há 12 anos, conta atualmente com mais 46 mil registos fotográficos de aproximadamente 500 famílias e grupos daquele concelho e do Algarve.
“Começou como uma ferramenta de trabalho para o Museu do Trajo mas depois tomou caminhos inesperados e no museu também estamos a trabalhar em função do futuro, estamos a deixar para as próximas gerações uma informação que se perderia de outra maneira”, explicou o diretor do museu, Emanuel Sancho.
Às três horas batidas num relógio antigo de parede, vão entrando, aos poucos, os participantes regulares dos encontros das quintas-feiras do FMID como é o caso de Maria João Gaspar (71 anos) que contou à Lusa apreciar particularmente as fotografias antigas.
“As fotografias de pessoas já com cento e tal anos, para mim, são as mais bonitas”, comentou, admitindo apreciar o modo de vestir, os penteados que se usavam e os vestidos de noiva.
À medida que no ecrã começam a surgir fotografias recentemente doadas e digitalizadas, cada um dos participantes vai dando o seu contributo, seja o nome de uma pessoa, a sua profissão, familiares e alcunhas ou, então, os serviços ou estabelecimentos que funcionaram em algum edifício antigo da vila.
“Dá para matar saudades de outros tempos”, referiu Amaro Serro (78 anos), apontando que tem “trazido fotografias e outras coisas também”.
“Ainda há pouco tempo a minha senhora trouxe o vestido de quando fez a primeira comunhão”, recordou.
Apesar de ter tido um arranque com pouca adesão, o projeto FMID tem vindo a ganhar o entusiasmo das pessoas da comunidade e, além de encontros semanais no museu, também se realizam reuniões mensais no sítio de Parises e no Núcleo Museológico do Alportel.
Já existe o pedido para a realização destes encontros na zona dos Vilarinhos e até os residentes estrangeiros já pedem para que as suas fotos sejam incluídas no projeto argumentando que se sentem parte da comunidade e da história daquele concelho, observou o diretor do museu.
Parises foi uma das zonas fortemente afetadas pelo incêndio de 2012 que afetou os concelhos de São Brás de Alportel e Tavira e Emanuel Sancho recordou que quando o projeto FMID chegou aquele sítio as pessoas estavam inconsoláveis e lhe garantiam que não tinha sobrado nada.
“A memória era algo que por muitos incêndios que existissem ninguém lhes podia tirar”, disse Emanuel Sancho que entretanto começou a trabalhar igualmente a recolha da memória e identidade dos lugares e dos hábitos das pessoas daquela zona.
A partilha fotográfica do projeto permitiu que algumas fotografias e memórias fossem recuperadas através de fotografias de familiares e amigos ao mesmo tempo que o Museu devolver objetos que tinham sido doados anos antes.
“Os arquivos (fotográficos) pessoais são um espólio importantíssimo, enquanto o arquivo fotográfico profissional é uma coisa profissional e fria, nos arquivos familiares há uma afetividade, outra relação que está ali a palpitar”, comentou Emanuel Sancho.
Apesar de 80% do espólio, composto por fotografias mas também de cartas, recortes de jornal, anúncios e outros registos, ser sobre as famílias e grupos desportivos ou associativos do concelho de São Brás de Alportel, Emanuel Sancho diz que já está a receber fotografias de pessoas dos concelhos limítrofes e até de outros concelhos como é o caso de Lagos.