As conferências do Conselho Central do Algarve da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) reuniram-se em Assembleia Geral no passado sábado em Santa Luzia para uma “retrospetiva do trabalho” que realizaram durante este ano.

O encontro, que teve lugar no Centro Paroquial com a participação de quatro das oito conferências vicentinas atualmente existentes no Algarve – Albufeira, Aljezur, Almancil e Tavira –, ficou marcado pela mensagem do assistente espiritual do Conselho Central, que apesar de não ter podido estar presente, enviou um texto para ser lido.

Na sua comunicação, intitulada “Só o Amor salva – o serviço evangelizador duma Igreja sinodal e missionária”, o cónego Carlos de Aquino sublinhou que “o serviço da caridade é a dimensão constitutiva da missão da Igreja, expressão irrenunciável da sua essência”, assim “como a sinodalidade”.
Com base na exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A Alegria do Evangelho) do Papa Francisco, o sacerdote escreveu que “sair com Cristo ao encontro de todas as periferias sociais e geográficas é desafio que constitui uma prioridade na ação evangelizadora da Igreja”, lembrando que “implica que se saiba escutar o clamor dos últimos” e “atenção e cooperação comunitária”. “Não é serviço de alguns. É exercício de sinodalidade, de caminho conjunto”, reforçou, considerando que “estar com os pobres é opção difícil, exigente, desafiadora” até porque “leva tempo, implicando avanços e recuos”.

Mas a reflexão do cónego Carlos de Aquino destacou-se pela exortação ao serviço. “Não obtemos pelo poder, mas pelo serviço. Se a opção for o poder, nunca seja o poder sobre, mas pelo poder com. Não obtemos pela fama como um fim em si mesma, mas como instrumento com o qual podemos ajudar os outros. E não obtemos por ganhar a todo o custo, mas por ganhos que nada custem aos outros e até lhes tragam ganhos também. Obtemos por ser melhores, mas não melhores que os outros; de preferência melhores do que éramos antes. Obtemos por consumarmos mais, para podermos dar mais e não consumir”, pediu.
O assistente espiritual dos vicentinos lembrou ainda que “amar é muito mais do que um assistencialismo humanitário” e do que “um solidarismo filantrópico”. “Amar é para o crente projeto de salvação”, clarificou, considerando que aqueles agentes da pastoral social não são “assistencialistas, mas cuidadores”. Nesse sentido, acrescentou que “a caridade genuína não se contenta com o socorro material, mas procura colocar a pessoa em grau de decidir a vida, encontrar uma correta relação consigo mesma e com os outros e abrindo-se ao diálogo com Deus”.
Por outro lado, lembrou não ser “uma caridade ocasional motivada por uma campanha circunstancial”, mas “aquela que parte de uma capacidade de leitura da condição dos outros, com o olhar penetrante e terno da fé”. “A caridade não distingue as pessoas dignas de ser amadas das que não o seriam, como instintivamente se faz. Na lógica do amor cristão não se cria critérios de separação e distinção”, prosseguiu, explicando que “a caridade nunca é neutra ou imparcial”, mas “é sempre parcial porque se dedica a uma parte, nunca por pretender uma exclusão parcial”.

A presidente do Conselho Central do Algarve da SSPV também incidiu na mesma tónica. “Em nome de Deus é que nós damos aos pobres. É importante que, no que fizermos, ponhamos sempre o amor”, realçou Fernanda Agapito, pedindo aos vicentinos que se sintam “no lugar do outro”. “[Importa] estar no lugar do outro e sentir que o outro é igual a mim”, acrescentou, aludindo à necessidade de agirem “pensando sempre que o outro é o Cristo”. “O mais importante é vermos no outro Cristo. Cristo é que nos deve mover neste nosso trabalho”, sustentou, considerando que para isso é preciso “ouvir a palavra, escutar a palavra, fazer oração e levar essa oração para o outro”.

Ao longo da tarde foi partilhado o trabalho realizado em cada uma das conferências, como a de Tavira que já apoia mensalmente cerca de 170 famílias. Os participantes discutiram ainda como podem assistir sem ser assistencialistas, sublinharam a importância dos donativos particulares e lamentaram não ter mais tempo para estar com os seus beneficiários. Foi ainda dada conta da eleição do novo presidente geral da SSPV, Juan Manuel Gómez, no passado dia 13 de junho em assembleia geral realizada em Roma e lembrado que o Conselho Nacional também está a terminar mandato, pelo que irão também decorrer eleições para aquele órgão.
Foi ainda recordada a realização, no dia 1 de dezembro do ano passado, do Encontro Regional das Conferências do Algarve na Ermida de Nossa Senhora da Orada, em Albufeira, com a participação, pela primeira vez na diocese, do então presidente geral da SSPV, Renato Lima de Oliveira. Fez-se igualmente memória do Encontro Nacional das Conferências de Portugal em Fátima, no passado dia 22 de abril, que também contou com a presença daquele responsável, pela primeira vez na peregrinação nacional vicentina àquele santuário, e de D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa.
Lembrou-se ainda o trabalho da Comissão Internacional de Ajuda e Desenvolvimento que “estuda as solicitações de financiamento” para projetos da SSPV em todo o mundo, explicando que “as suas ações são financiadas por donativos dos Conselhos Superiores ou Nacionais e por donativos exteriores”.
A Sociedade de São Vicente de Paulo – inspirada no santo francês com o mesmo nome que viveu entre 1581 e 1660 – foi fundada em Paris no ano de 1833 por um grupo de estudantes liderados pelo beato Frédéric Ozanam, tendo chegado a Portugal em 1859, quando foi criada a primeira Conferência, em Lisboa. No Algarve existem presentemente 12 conferências do movimento em Albufeira, Aljezur, Almancil, Ferragudo, Ferreiras, Monchique, Olhão e Tavira.