É costume velho, aliás, de grande utilidade, fazerem as empresas, no fim de cada ano, os seus balanços.

Então se descobrem os lucros, as perdas ou os danos e se verifica o progresso ou o retrocesso das mesmas empresas.

Outros balanços, porém, poderiam ser feitos e, entre eles, de certo, o balanço das várias atitudes sociais e humanas, que nos espelharia, sem dúvida, um outro mundo também de ganhos, de percas ou danos referentes à vida dos homens.

Que activo e que passivo por aí descobriríamos!…

A começar, por exemplo, pelos bajuladores a todos os níveis e nos mais variados tons e escalas, seria um nunca acabar…

Ei-los a fervilhar à volta dos poderosos, sempre prontos a abanar a cabeça, que sim, que sim, sempre incondicionalmente a aplaudir, a bajular, numa subserviência sem limites…

Estes são, de facto, os ultra, quase irracionais e fanáticos que, por incapacidade de discernimento, se transformam em autênticos idólatras.

No seu excesso de bajulice juntam-se a fazer coro com os que egoisticamente só têm uma finalidade na vida que é o seu triunfo e o seu bem estar material, social e económico… é o ideal que estes perseguem.

Mas há ainda outra gama de balanços que nos fariam pasmar se fossem abertamente respeitados e publicados, referimo-nos aos cínicos e mentirosos políticos ou não, pertencentes aos mais variados escalões e sectores da nossa sociedade.

Talvez não sejam tão numerosos, mas são, de certo, muito perigosos porque nos abraçam de manhã e à tarde nos atraiçoam com a mais desfaçatez.

Quão miseráveis são estas duplicidades de carácter que tão profundos males causam ao próximo!…

Mas há ainda que fazer balanço inteiramente positivo daquelas atitudes nobres dos que não hesitam em defender frontalmente a Verdade, dos que, apesar de todas as pressões, sabem defender a justiça, dos que procuram dar voz aos que a não possuem, enfim dos que dão a cara em todas as questões que dizem respeito aos pobres, aos marginalizados e esquecidos…

É ainda balanço positivo a atitude dos que corajosamente denunciam a corrupção que hoje, mais do que nunca, campeia na nossa sociedade.

Positivo é, igualmente, a atitude dos que, ao longo do ano que findou, foram capazes de chamar a atenção dos responsáveis para todos os grandes problemas, incluindo as maiores chagas sociais que afligem uma multidão de portugueses entre os quais os desempregados os idosos, os doentes e os jovens.

Em concreto foram denunciando as míseras pensões de cerca de 2 milhões de reformados, as carências de milhares de famílias sem trabalho e sustento e de todos os que já não vivem, apenas vegetam…

Finalmente, muitos outros possíveis balanços e balancetes poderíamos ainda que referenciar como, por exemplo, os realizados sobre as atitudes de cariz vincadamente espiritual que traduziriam valores e vivências de sentido perene e transcendente.

Neste rol se incluiriam as atitudes religiosas transformadoras e transformantes da vida dos homens que os leva a glorificar a Deus por um lado, e a reconhecer a própria pequenez pelo outro.

São estas atitudes, quando conscientemente assumidas e praticadas, que merecem uma nota altamente positiva, no balanço respectivo.

E balanços deste género, em que todos os valores se encontram hierarquizados, proporcionam ao homem, mormente ao homem cristão, uma perfeita tranquilidade de consciência geradora da verdadeira alegria e paz.