No Domingo que antecedeu o encerramento do ano sacerdotal, foi beatificado em Varsóvia o Pe. Jerzy Popieluszko. Um sacerdote que ainda jovem, com 37 anos apenas, foi assassinado pela polícia política do governo comunista da Polónia, em 1984. Era um grande admirador, desde a infância de um outro sacerdote polaco que também foi mártir, S. Maximiliano Maria Kolbe, assassinado pelos guardas nazis do campo de concentração de Auschwitz. Ambos polacos, ambos sacerdotes e ambos morreram às mãos de polícias de regimes totalitários.
O Pe. Jerzy nasceu em 1947 e ainda no seio materno foi consagrado a Deus por sua mãe Marianna, durante uma semana missionária que teve lugar na sua aldeia. Ao ser beatificado no contexto do ano sacerdotal, certamente que a Igreja o pretende apresentar como exemplo a todos os presbíteros. Seria, porém, muito redutor pensar que a sua beatificação se fica a dever exclusivamente ao seu martírio, pois o martírio do Pe. Jerzy não foi acidental, mas o corolário de uma vida apaixonadamente dedicada à causa do Evangelho. Entrou no Seminário de Varsóvia em 1965 e desde aí começou a sentir na pele o peso das perseguições, dos incómodos e dos maus-tratos do governo comunista da Polónia que perseguia a Igreja com pesadíssimos e irracionais impostos que taxavam os Seminários como se fossem hotéis de luxo. Em resultado disso, todos os seminaristas se tornavam trabalhadores-estudantes para poderem ganhar dinheiro para ajudar a pagar os brutais impostos. Menos de um ano depois de ter entrado no Seminário, foi recrutado para a tropa, onde foi sujeito a todas as pressões, físicas e psicológicas para o demoverem de seguir o caminho do sacerdócio. Humilhações, maus-tratos, doutrinação ideológica, de tudo, o Estado Comunista Polaco lançou mão para afastar os jovens polacos da Igreja, mas nada demoveu o jovem Popieluszko que em Maio de 1972 foi ordenado presbítero pelo Cardeal Stefan Wyszynsky, outro grande herói da Polónia.
Nos primeiros anos do seu sacerdócio o Pe. Popieluszko esteve ao serviço de várias Paróquias, tendo depois ido trabalhar na Pastoral da Saúde, onde foi assistente espiritual de médicos, enfermeiros, estudantes de medicina, e se notabilizou na defesa da vida humana, lançando um movimento nacional de protecção do nascituro. Dois acontecimentos vão alterar o curso da história humana e da Nação Polaca: Em 1978 dá-se a eleição de João Paulo II e em 1980 nasce o Movimento Sindical Solidariedade a partir dos levantamentos operários de Gdansk. O Pe. Jerzy torna-se capelão dos operários metalúrgicos de Zoliborz, para quem passa a celebrar missa dentro da fábrica. Com a imposição da lei marcial em Dezembro de 1981, o Solidariedade passou à clandestinidade e os seus dirigentes e muitos milhares de operários foram presos em campos de concentração. O Pe. Jerzy organizou o socorro material ás famílias das vítimas e para apoiar espiritualmente os polacos começou a celebrar missas pelos que estavam na prisão a que chamou "missa pela pátria"! Apesar de tais missas serem às 7 horas da manhã, a Igreja enchia-se e a sua fama de pregador da liberdade espalha-se. Naturalmente essas missas, como toda a actividade do Pe. Jerzy passaram a ser vigiadas pela polícia política, que inclusivamente cercava a Igreja de Varsóvia onde elas tinham lugar, no último Domingo de cada mês. As perseguições pessoais e as pressões sobre os bispos para o desautorizarem não pararam, chegando a ser preso e interrogado por treze vezes, até que em 19 de Outubro de 1984, depois de uma tentativa falhada, os esbirros da policia comunista polaca, interceptaram o automóvel em que viajava de noite de regresso a Varsóvia, prenderam o motorista, e agrediram o Padre com umas mocas, atingindo-o na cabeça. Já inconsciente, amarrado e amordaçado, o Pe. Jerzy foi primeiro metido na bagageira do automóvel e depois lançado vivo numa barragem com pesados sacos de pedras amarrados às pernas. O seu funeral foi uma apoteose em que participaram cerca de trezentos e cinquenta mil pessoas. O seu túmulo tornou-se um santuário, onde se operam grandes conversões, o próprio Papa João Paulo II aí se ajoelhou e rezou longamente. O Pe. Jerzy Popieluszko, é um exemplo para todos os baptizados, especialmente para os sacerdotes, pela forma empenhada e apaixonada como viveu a sua fé e o seu sacerdócio. A sua divisa, diante do mal e do ódio espalhado por um sistema totalitário, materialista e ateu, era "vencer o mal com o bem" e as últimas palavras que proferiu na vigília de oração que antecedeu imediatamente a sua morte, numa igreja do Norte da Polónia a mais de 250 Kms de Varsóvia foram: "Rezemos para que sejamos libertados do medo e da intimidação, mas acima de tudo para que sejamos libertados do desejo de violência e de vingança".