Foto © Samuel Mendonça
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O bispo do Algarve enviou ontem uma algarvia em missão para a China, no final da celebração da solenidade de Pentecostes a que presidiu ao final da tarde na Sé de Faro.

Helena Merlin, de 37 anos, solteira e natural de Faro, vai participar numa missão naquele país, integrada numa comunidade do Caminho Neocatecumenal que ali vive uma realidade clandestina como toda a Igreja.

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Recorde-se que em 1957 foi criada na China a Associação Patriótica Católica (APC), controlada pelo regime de Pequim, para evitar interferências estrangeiras, em especial da Santa Sé, e para assegurar que os católicos vivem em conformidade com as políticas do Estado.

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Esse organismo nomeia os bispos do continente e recusa o reconhecimento da autoridade do Vaticano, que tem cerca de oito milhões de fiéis na chamada «Igreja clandestina», e têm sido comuns os episódios de detenção de prelados e de grande pressão para que os sacerdotes entrem na «Igreja patriótica», alguns dos quais, segundo testemunhos, acabam mesmo por ser fuzilados por não cederem.

O Vaticano considera «ilegítimos» os bispos que receberam jurisdição da APC, sem autorização do Papa, e a Santa Sé revelou em outubro de 2012 a intenção de reforçar o diálogo com a China, criando uma “comissão permanente” para esse fim, e espera que o regime de Pequim responda à carta enviada por Bento XVI em 2007 àquele país do continente asiático onde a Igreja Católica é minoritária, representando apenas cerca de 3% da população.

Nessa missiva, o Papa emérito referia-se a “um controlo indevido, exercido sobre a vida da Igreja”. Para o restabelecimento de relações diplomáticas, a China exige que o Vaticano deixe de reconhecer Taiwan como país independente e aceite também a nomeação dos bispos chineses por parte da APC.

Pertencente à terceira comunidade neocatecumenal da paróquia da Conceição de Faro, Helena Merlin irá trabalhar na China com comunidades católicas e com outras não-cristãs. A missionária algarvia irá colaborar com famílias do Caminho Neocatecumenal que foram enviadas pelo Papa Francisco no passado dia 6 de março. “Estas comunidades, chamadas pelos bispos, são formadas por um presbítero e por quatro ou cinco famílias com filhos com um mandato para evangelizar os não-cristãos que nunca ouviram falar de Jesus Cristo e os muitos não-cristãos que se esqueceram de quem é Jesus Cristo, não-cristãos batizados, mas aos quais a secularização, a mundanidade e muitas outras coisas fizeram esquecer a fé”, explicou ontem o padre Pedro Manuel na introdução que fez à bênção de envio, citando o Papa Francisco.

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“A Helena não tomou esta decisão fechada em si mesma e apoiada nas suas forças. Ela abriu-se ao Espírito [Santo] e apoia-se na Igreja”, acrescentou o sacerdote.

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Na sua homilia, o bispo do Algarve destacou o impacto daquele acontecimento para a Igreja algarvia. “Este envio vem despertar em nós que todos devemos sentir-nos hoje, mais uma vez, enviados. Se não é para longe, para perto, para as nossas famílias, para as nossas casas, para as nossas paróquias, para os lugares do nosso trabalho e estudo. Para quê? Para ser sinal de Cristo”, considerou.

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Após o cântico do envio, interpretado pelos restantes membros da sua comunidade, um momento de particular emoção para a missionária, seguiu-se a oração do envio. O bispo do Algarve estendeu as mãos sobre a missionária, juntamente com os membros da sua comunidade neocatecumenal, uma vez que ela foi enviada pela Igreja diocesana, mas, de forma muito concreta, pela comunidade onde está integrada e tem vivido e redescoberta da sua fé.

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D. Manuel Quintas referiu-se a Helena Merlin como “mensageira da paz” que “vai dedicar alguns anos da sua vida ao serviço dos mais necessitados”, pedindo “que nunca seja vencida pelo cansaço ou pelo desânimo”. O prelado benzeu e entregou-lhe uma cruz de madeira, “sinal do amor de Cristo e da missão” a que a Igreja a destina, que a missionária beijou e colocou ao pescoço.

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“Estamos muito felizes. Certamente que vai levar-nos e vais ter presente esta celebração. Podes ter dificuldade em falar em mandarim, mas seguramente, por tudo o que nós hoje celebrámos, não terás dificuldade em falar a linguagem do amor, do espírito, através dos teus gestos e atitudes, e, sobretudo, do teu serviço. Esses gestos e essa linguagem certamente serão fecundos na tua dedicação e doação aos outros”, afirmou D. Manuel Quintas, acrescentando que a Igreja algarvia também terá a missionária presente na sua oração.

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O Caminho Neocatecumenal nasceu há 50 anos em Espanha, por iniciativa do pintor e músico Kiko Argüello e da missionária Carmen Hernández e é reconhecido pela Igreja Católica como um itinerário de formação católica válido para a sociedade e para os dias de hoje. Para além da China, este itinerário de iniciação cristã está atualmente está implantado também noutras nações tradicionalmente não cristãs, como o Egito, a Coreia do Sul ou o Japão. No que diz respeito à missão ad gentes, o Caminho Neocatecumenal conta atualmente com mais de 230 famílias a trabalharem em 52 cidades.