Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo do Algarve lembrou esta tarde, em que a Igreja celebra a paixão e morte de Jesus, que “a salvação de Cristo é oferecida a todos, sem exceção”.

D. Manuel Quintas, na celebração da Paixão do Senhor a que presidiu na catedral de Faro, destacou que essa evidência é expressa, de modo particular, na oração universal da celebração desta tarde que neste dia assume “uma forma solene e ampla”. Composta por dez intenções, a prece (vulgarmente conhecida como oração dos fiéis) procura abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade.

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Assim, para além de terem em conta “os que sofrem toda a espécie de tribulações”, os católicos rezaram também pela Igreja, pelo papa, pelo bispo local e todos os restantes bispos, presbíteros, diáconos, pelos que exercem na Igreja algum ministério e todo o povo de Deus, pelos catecúmenos, por todos os que creem em Cristo, pelo povo judeu, pelos que não creem em Cristo, pelos que não creem em Deus e pelos governantes de todas as nações “para buscarem sempre a verdadeira paz e a liberdade de todos os povos”.

Pediu-se ainda “para que se fortaleça em toda a terra a prosperidade das nações, a segurança da paz e a liberdade religiosa”, para que Deus “livre o mundo de todos os erros, afaste as doenças e a fome em toda a terra, abra a porta das prisões e liberte os oprimidos, proteja os que viajam e reconduza ao seu lar os imigrantes desterrados, dê saúde aos enfermos e a salvação aos moribundos”.

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Por outro lado, o bispo diocesano destacou que contemplar Jesus trespassado na cruz estimula a “abrir o coração aos outros, reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano”. “Impelir-nos-á a combater qualquer forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa; a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas; a partilhar o que somos e o que temos com os atingidos por tantas formas de sofrimento e de solidão”, afirmou.

Através da Rádio Renascença que transmitiu a celebração em direto da catedral de Faro, o prelado dirigiu “uma palavra de particular afeto, a quantos vivem, hoje, de modo muito real, a paixão de Jesus”, referindo-se concretamente aos “doentes, em hospitais ou nas suas casas, privados ou fragilizados na saúde”, aos que “se encontram em estabelecimentos prisionais, privados de liberdade” e aos que “atravessam situações de sofrimento com diversas origens – doenças, acidentes, violência doméstica, ruturas familiares, mortes inocentes, vítimas da ganância dos bens e do lucro ilícito, vítimas de fundamentalismos religiosos, ideológicos, de lutas políticas, desprezo e atentados à vida humana nos seus diversos estádios – sofrimento que aumenta o peso da própria cruz”.

D. Manuel Quintas não esqueceu ainda os que se encontrando em viagem, tiveram naquela transmissão “o único modo” “de celebrar a Paixão do Senhor”.

O dia de Sexta-feira Santa, em que imperam o silêncio, o jejum e a oração, é um dia alitúrgico por ser o único do ano em que não se celebra a eucaristia. “A Igreja, ao distribuir a eucaristia neste dia, ainda que não a celebre, não quer privar-nos de, ao comungarmos o corpo de Cristo, podermos contemplar mais profundamente o mistério da sua entrega por nós, que se fez nosso alimento de vida eterna, mistério de fé e de amor constantemente atualizado e oferecido”, explicou o bispo do Algarve.

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Lembrando que “a cruz é a manifestação do ato de amor infinito, com o qual o filho de Deus salvou o homem e o mundo do pecado e da morte”, o prelado convidou os presentes a “um olhar de fé e de amor para Cristo crucificado”. “Contemplemos Cristo trespassado na cruz! Ele é a revelação mais perturbadora do amor de Deus”, afirmou, lembrando que a cruz ensina “que o amor é mais forte do que a morte”. “Perante a certeza e a grandeza de tal amor, deve surgir espontaneamente de cada um de nós a pergunta: que devo fazer para corresponder a tal amor? Que resposta devo dar, que seja digna do amor de Deus, manifestado em Cristo, por mim?”, prosseguiu, acrescentando: “a resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é, antes de tudo, que acolhamos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele”.

Mas D. Manuel Quintas advertiu que “não basta aceitar e acolher o seu amor”. “É preciso também corresponder a este amor e comprometer-se a transmiti-lo aos outros: Cristo atrai-me para si, para se unir a mim e para que eu aprenda a amar os irmãos com o mesmo amor”, sustentou, desejando que a celebração desta tarde possa constituir para todos “uma experiência gratificante do amor de Deus”, “oferecido em Cristo” e, por sua vez, “um apelo a partilhar este amor com o próximo, sobretudo com quem mais sofre e é necessitado”. “Só assim poderemos participar plenamente da alegria Páscoa de Cristo Ressuscitado”, alertou o prelado, que lembrou ainda que do “lado aberto de Cristo na cruz”, “brotam sangue e água”, “símbolos dos sacramentos do batismo e da eucaristia”.

A celebração desta tarde, centrada na adoração da cruz, nas igrejas com os altares desnudadas desde a noite de ontem, é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão eucarística.

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Na catedral de Faro, a celebração da Paixão do Senhor iniciou-se, como acontece em todo o mundo, em silêncio, com o bispo do Algarve a prostrar-se diante do altar descoberto, e terminou também em silêncio.

Após a oração universal, seguiu-se a apresentação e veneração da cruz realizada por uma fila imensa de fiéis e a comunhão da eucaristia ontem consagrada.