O bispo do Algarve pediu esta noite, na missa em que a Igreja celebra simultaneamente a instituição do sacerdócio e da eucaristia, que a participação dos cristãos naquela celebração e a sua comunhão do corpo e sangue de Cristo constituam um “imperativo quotidiano de serviço aos outros como expressão de amor fraterno no cumprimento do mandamento novo” que Jesus deixou.
Na Missa da Ceia do Senhor, a que presidiu na Sé de Faro, D. Manuel Quintas voltou a citar a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A Alegria do Evangelho) do Papa que disse ir ter como referência durante as suas intervenções ao longo deste Tríduo Pascal.
Detendo-se no capítulo IV daquele documento, sobre a dimensão social da evangelização, o prelado abordou o significado do gesto do lava-pés realizado por Jesus momentos antes da sua morte, que repetiu após a homilia (ouvir áudio abaixo). Neste sentido, lembrou que “a palavra de Deus ensina que no irmão está o prolongamento permanente da encarnação de Jesus” para cada pessoa. “O que fizermos aos outros tem uma dimensão transcendente”, sustentou, citando Francisco.
D. Manuel Quintas exortou cada um dos presentes à “absoluta prioridade da saída de si próprio em direção ao irmão”, aludindo ao “mandamento novo” deixado por Jesus. “Verificamos assim que o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência. Tal como a Igreja é missionária por natureza (existe para evangelizar) também brota, inevitavelmente, dessa natureza a caridade efetiva para com o próximo, a compaixão, que compreende, assiste e promove o outro”, acrescentou, continuando a citar o Papa.
O bispo do Algarve aludiu à “dimensão social da fé e da evangelização” e advertiu para os perigos de uma “fé desencarnada” “que não tenha em conta o irmão e a promoção do outro”.
Por outro lado, D. Manuel Quintas considerou que “a dimensão social e pastoral supõe e exige uma espiritualidade que transforma o coração” porque “a dimensão espiritual é a alma de toda a dimensão social e evangelizadora da Igreja”. “É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade. Sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se. A Igreja não pode dispensar o pulmão da oração”, advertiu, citando de novo o documento pontifício.
A Missa Vespertina da Ceia do Senhor introduz na celebração do Tríduo Pascal, considerado o coração do ano litúrgico, o tempo particularmente significativo para toda a Igreja e para cada cristão pela celebração dos mistérios fundamentais da sua fé: a instituição da eucaristia e do sacerdócio, a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Como é hábito, no final da celebração o Santíssimo Sacramento foi levado em procissão e colocado em lugar de destaque no interior da catedral para veneração e adoração dos fiéis por só se voltar a celebrar a eucaristia na Vigília Pascal de Sábado Santo.
No dia de hoje, Sexta-feira Santa, aliturgico por ser o único do ano em que a Igreja não celebra a Eucaristia mas a paixão e morte de Jesus Cristo, imperam o silêncio, o jejum e a oração.
A celebração da tarde, centrada na adoração da cruz, nas igrejas com os altares desnudados desde a noite de ontem, é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão eucarística.
À noite será realizada a Procissão do Enterro do Senhor. Em Faro, a mais significativa do Algarve, decorrerá pelas 21h, presidida pelo bispo do Algarve, a partir da igreja da Misericórdia, percorrendo as principais ruas da baixa da capital algarvia.