Mais que palavras bonitas este desafio é um convite a fazer da nossa vida um testemunho onde a Fé e a existência dão as mãos ao serviço do Outro e do outro. Amar, servir e fazer-se pão são sinónimos de quinta-feira santa em contexto diário.

Mais de 1400 participantes no Congresso Eucarístico Nacional (CEN) escutaram o apelo que dá título a esta partilha, da parte do Cardeal Tolentino, enviado do Santo Padre no contexto do culminar da peregrinação que levou mais de 100 mil peregrinos de Braga ao Sameiro. Como poderei dizer numa palavra ou numa frase algo que resuma o que vivemos?

– Elevarei o cálice da Salvação invocando o nome do Senhor! (Sl 116, 13)

Conferências, celebrações, conversas, momentos de adoração e partilha de Fé. Braga foi lugar de encontro, de comunhão e de esperança a partir de onde fomos enviados de forma renovada pelo mundo com a missão de anunciar os três chamamentos que são dirigidos à Igreja.

A Igreja “Eucarística” presente em palavras, gestos e olhares é expressão de uma vivência que se quer de portas abertas onde o clericalismo não tem lugar. A igreja assume a sua missão de maternidade e paternidade no meio do mundo e com Jesus no centro pede-nos que nos façamos pão e “lhes demos nós mesmos de comer”.

A esta dimensão sucede a Igreja “Samaritana” na qual a linguagem da compaixão e a atitude da escuta têm a centralidade evangélica ilustrada pelo testemunho do céu em Jesus. Escutando a homilia na missa de encerramento do CEN, tocou-me profundamente o que escreveu o monge-poeta Daniel Faria: «escrevo para os que morrem sem nunca terem provado o pão/ Grito-lhes: imaginai o que nunca tivestes nas mãos!» Deus é Pai e é este Pai verdadeiramente amoroso que continua a abrir os braços para fazer da Sua casa, da Sua igreja, um reduto de misericórdia que tem em Jesus o verdadeiro, único e maior modelo da Palavra que se faz pão para saciar a fome de infinito da humanidade.

O cume deste percurso é a descoberta de um Igreja “Mariana” que encontra a sua matriz na gentileza e na contemplação. Também aqui, a Igreja nasce e renasce. A Maria Santíssima, a igreja continua a dizer “querida Senhora do Sameiro, olha por todos estes teus filhos aqui presentes, ‘Tu podes, porque és a mãe de Deus, e deves porque és a nossa mãe!’.” Só um itinerário contemplativo pode levar a igreja a um profundo “faça-se”. O amor como obra de arte faz-nos perceber como a via da beleza continua a ser o melhor comentário à salvação operada por Deus no meio do mundo.

O CEN é fruto de uma tradição que evocou a memória dos que “sonharam e acreditaram na aventura eucarística”. Neste ano da oração, como meio de prepararmos o Jubileu de 2025, fomos convidados a “saborear o bom e belo sabor do pão” na Eucaristia que não é circunstância de poder mas sacramento de serviço.

Se a Eucaristia faz a Igreja questionemos realmente qual a nossa experiência de Igreja? Como saímos da Igreja hoje? Saímos com Alegria? Esperança? Com sinais de fraternidade?

Percebemos e aceitamos também nós que na oblação do Corpo e Sangue do Senhor, na singeleza dos dons do pão e vinho temos a melhor catequese acerca da comunhão, dada pelos bagos de uva e pelos muitos grãos de trigo que se unem para formar um só. Esta é a grande oblação dos mesmos! Oblação que se torna vital para os outros (Corrado Maggioni). A Eucaristia é realmente profética! Nela O Senhor Se dá a conhecer na fração do pão.

Afinal… “as coisas sonhadas existiam” (Sophia de Melo Breyner) porque o céu toca a terra cada vez que atualizamos o memorial da morte do Senhor… o CEN pela voz do P. Carlos Carneiro rezou a sua vocação eucarística… “Quem comungo eu quando Te comungo? És Tu Senhor aue me comungas (que comungas o mundo). Nós que temos a assinatura de Deus no íntimo do nosso ser bem podemos rezar contemplando… deixaste a Tua igreja nas mãos de quem? Só uma Igreja grávida do futuro” pode anunciar com a vida uma esperança maior do que ela… uma esperança que se chama eternidade.

Rezar o futuro…
Podemos rezar alguns desafios com expectativa: a celebração do domingo há-de ser um verdadeiro encontro com o Ressuscitado que mude as nossas vidas e nos faz desejar outros momentos de intimidade e partilha com Jesus no silêncio do sacrário ou na sublimidade da sua presença real na custódia.

O passado e o presente comentados pelo desenvolvimento da tecnologia e das comunicações reforçam a eucaristia como caminho de unidade e fraternidade e fazem-nos sonhar com o ideal de nos encontrarmos todos em Jesus, porque todos são destinatários da Eucaristia enquanto Sacramento de redenção.

A novidade do Evangelho leva-nos a corresponder à beleza do que se crê e celebra, com a oportunidade do que se vive. A eucaristia ajuda-nos a fazer caminho conjunto e porque promove a paz, abre ao mundo uma janela de esperança.

Retomando a homilia de Tolentino Mendonça também eu quero exortar a igreja a que se reencontre com Jesus para recomece, como sempre. “Um poeta escreveu que o pão repete a imagem do ventre da mãe, pois está associado à germinação, à plenitude e à vontade de viver. É verdade! O homem não pode viver sem pão. Essa é também a sua realidade. O pão pode ter o perfume da paz ou estar na origem das devastadoras guerras. O pão pode ser aquilo que une ou a ferida que separa.”

Se soubermos fazer da nossa vida uma vida eucarística Jesus passará por meio nós e chegará ao coração do mundo! Porque a palavra Se faz pão alimentemo-nos e continuemos a caminhar.