A campanha para as eleições presidenciais foi rica em ataques pessoais e políticos entre pares, em debates vazios de ideias (salvo raras excepções), e recheados de slogans que, repetidos muitas vezes, poderão convencer aqueles que têm andado mais distraídos, ou que, porventura não tomem muita atenção à vida política nacional.

Nos debates televisivos, mais importantes que nunca, dadas as condicionantes que impedem os candidatos de fazerem campanha pelas ruas, vi quatro candidatos com estofo político para o debate – Marcelo Rebelo de Sousa, André Ventura, Ana Gomes e João Ferreira – apesar de num ou noutro debate, se ter perdido a consciência daquilo que é aceitável dizer, levando-me a não concordar com determinados métodos utilizados. Goste-se ou não das ideologias dos candidatos em causa, das ideias que têm e defendem para a Presidência da República, bem como do modo como a pretendem exercer, estes foram os que melhor souberam apresentar ideias e propostas de futuro (embora diminutas), sendo também os que mais capacidade tiveram para combater no campo das ideias.

Chegados aqui, houve tempo para reflectir, ponderar, e tomar uma decisão definitiva quanto à intenção do nosso voto. Tal como eu, muitos tiveram a oportunidade de o fazer no pretérito Domingo, exercendo o seu direito de voto antecipado em mobilidade, algo positivo, mas com pormenores a afinar.

Na situação sanitária em que nos encontramos, existindo a certeza prévia do número de eleitores inscritos para votar antecipadamente, urge perguntar, porque é que não se criaram mais mesas de voto, fazendo com que a votação fosse mais célere? Como é que não se tem em conta as condições em que as pessoas terão de aguardar até conseguirem votar? Votei em Silves, e, desde a minha chegada ao local designado para tal, até ao momento de depositar o voto na urna, passaram praticamente duas horas. Não votei em Lisboa ou no Porto, onde a afluência e respectiva espera foram bem maiores, mas, parece-me tempo deveras exagerado, quando no local, poderiam existir mais duas mesas de voto, por exemplo. É mais dispendioso para o Estado? Certamente. Mas para poupar em mesas de voto, muitos eleitores pouparam também o seu voto, porque foram muitas as pessoas que me disseram não votar se tivessem de esperar todo este tempo, havendo também vários casos de desistência.

Evidentemente que ninguém gostaria de estar no poder, tendo que tomar decisões importantes, em tempos tão conturbados. Porém, foi para isso que elegemos aqueles que lá estão, e, tudo o que tem pululado em torno destas eleições revela descuido e amadorismo. Já se sabia há muito que Janeiro era o mês das presidenciais, sendo também apontado pelos especialistas como um mês difícil por causa do número de novas infecções diárias. Se existiam reformulações a fazer, porque não foram feitas em tempo oportuno? Se esteve em cima da mesa o adiamento do acto eleitoral, porque não foi tratado atempadamente? Toda esta preparação deixa muito a desejar, dando a sensação de que as coisas, foram feitas à boa moda portuguesa, em cima do joelho. Porém, avancemos.

Neste Domingo, dia 24, sairá de casa a maior fatia de eleitores, para votar. É tempo de mostrar que a democracia está viva, e, sendo este um direito que temos, é também um dever. Não fiquemos em casa para depois apontarmos o dedo, deixando que os outros decidam por nós, embora seja um direito que a todos assiste. Sejamos protagonistas desta eleição, respeitando os valores de Abril e a luta de tantos que foram perseguidos, presos e torturados para conquistarem o direito ao voto livre e democrático. Que estes tempos pandémicos não constituam obstáculo a uma participação eleitoral massiva. Com civismo e tranquilidade, é possível votar de forma totalmente segura.

A título de curiosidade, desde 1976, ano em que foi eleito o General Ramalho Eanes, as três eleições com maior abstenção foram as de 2011 (53,48%), 2016 (51,17%) e 2001 (50,29%), com taxas sempre superiores a 50%. Domingo, há quem aponte para uma abstenção a rondar os 75%, algo drástico para a nossa democracia. Façamos a nossa parte, impedindo que 2021 entre na história da democracia portuguesa como o ano em que, houve menos eleitores a exercerem o seu direito na escolha do Presidente da República.

Está nas mãos de cada eleitor a escolha do/a seu/sua presidente. Façamo-lo em consciência e com total sentido de responsabilidade, escolhendo aquele/a que julgamos defender melhor os nossos ideais e sensibilidades, mas, escolhamos sobretudo, a pessoa que ajuizamos ser capaz de exercer o mais alto cargo da nação com honestidade, seriedade e respeito por todos os portugueses. É missão do/a Chefe de Estado conciliar e agregar as várias vontades, num exercício constante de cumprir e fazer cumprir a Constituição, abdicando sempre de populismos, porque o/a Presidente da República não pode nem deve ser aquele/a que divide para reinar.

No próximo dia 24, orgulhe-se do seu voto!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia