A dieta mediterrânica foi hoje classificada como Património Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em Baku, no Azerbaijão, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Tavira.
A decisão foi tomada hoje durante a 8.ª Sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, onde esteve presente uma delegação portuguesa, liderada pela Câmara de Tavira, que submeteu a candidatura transnacional em conjunto com o Chipre, a Croácia, a Grécia, a Espanha, a Itália e Marrocos.
A candidatura conjunta da Grécia, Espanha, Itália e Marrocos, em novembro de 2010, foi completada por Portugal, Chipre e Croácia em março de 2012.
Após ser conhecida a decisão, o presidente da Câmara de Tavira, Jorge Botelho, disse à agência Lusa que “é uma satisfação enorme” o reconhecimento da Unesco, porque “não é todos os dias que a terra e a comunidade onde se tem responsabilidades se transformam em património da Humanidade” por uma declaração do “órgão máximo a nível mundial para a inscrição de propostas e boas práticas culturais”.
“É o corolário de mais de dois anos e meio de trabalho. Começámos este trabalho há muito tempo por proposta e convite do Governo português e quero agradecer ao Governo português pela ajuda que nos deu e agradecer a todos os que trabalharam nesta candidatura”, acrescentou o autarca.
Jorge Botelho sublinhou que a distinção da dieta mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade é “seguramente uma grande oportunidade, mas acima de tudo é um grande reconhecimento daquilo que Tavira é hoje” e representa um “enorme potencial” para o concelho, o Algarve e Portugal.
O presidente da Câmara algarvia admitiu que, após a classificação por parte da Unesco, é agora necessário trabalhar para manter as características que levaram à aceitação da candidatura e potenciar turística e economicamente a dieta mediterrânica.
“Isto trás uma enorme responsabilidade de preservação e de sustentabilidade para o futuro daquilo que nós estamos a fazer hoje. A Unesco reconhece patrimónios autênticos, patrimónios preservados e boas práticas que devem ser seguidas para o futuro. Ora esta é que é a base da nossa candidatura, da nossa autenticidade e o nosso valor que hoje foi reconhecido”, afirmou Jorge Botelho.
Depois da classificação do fado, há dois anos, Portugal volta a integrar a lista de bens do Património Imaterial e Cultural da Humanidade com a dieta mediterrânica, sendo esta a primeira vez que a região do Algarve vê a sua cultura reconhecida pela UNESCO.
Portugal tem Tavira como a sua comunidade representativa, que assegurou o processo técnico de preparação da candidatura, ao longo de dois anos e meio.
O presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrageta, considerou que a classificação trará benefícios para a saúde, mas também para a economia, com o reconhecimento dos produtos portugueses.
O presidente da FPC disse à Lusa que foi com “muita satisfação e alegria” que recebeu a notícia, uma vez que foi a Fundação que lançou em 2010 uma campanha de candidatura da dieta mediterrânica à UNESCO, por ser uma alimentação que reduz o risco de acidentes cardíacos e simultaneamente promove internacionalmente o país.
“Estamos muito felizes porque foi uma vitória do nosso país”, comentou o cardiologista, contando que “a fundação, que está dentro da Medicina, das doenças e da prevenção, viu que havia uma grande virtualidade em que a dieta mediterrânica fosse celebrada em Portugal e fosse considerada património Imaterial da humanidade”.
“Fomos os pais da ideia, lançámos a ideia, as coisas correram bem, mobilizámos a cidade de Tavira e os poderes políticos e estamos muito satisfeitos, porque isso tem implicações positivas para Portugal”, sustentou.
Com esta distinção, sublinhou, os produtos portugueses “são mais reconhecidos”, nomeadamente o azeite, o vinho, o peixe, as frutas, as hortaliças e as hortaliças.
“Tudo isso são pilares da dieta mediterrânica e, por isso, é uma grande valorização dos nossos produtos e isso tem impactos económicos positivos para o nosso país e para os nossos produtores, numa fase difícil”, disse o cardiologista.
Manuel Carrageta observou que, “as pessoas em todo o mundo, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa do Norte, celebram a dieta mediterrânica, que é considerada unanimemente, em termos científicos, como a dieta que tem a alimentação mais saudável, além de ser extremamente saborosa”.
O cardiologista espera que, com esta distinção, se volte a valorizar a dieta mediterrânica em Portugal.
“A dieta mediterrânica estava moribunda e estava a crescer muito a ‘fast food’ e isto permite equilibrar a situação”, frisou.
Salientou ainda a importância desta dieta para prevenir doenças cardiovasculares, a obesidade, a diabetes e o cancro.
A dieta mediterrânica, com origem no termo grego “daiata”, é um estilo de vida transmitido de geração em geração, que abrange técnicas e práticas produtivas, nomeadamente de agricultura e pescas, formas de preparação, confeção e consumo dos alimentos, festividades, tradições orais e expressões artísticas.
com Lusa