A Diocese do Algarve promoveu o 23º Encontro dos Povos Migrantes a 24 de setembro de 2023, data particularmente simbólica por celebrar a Igreja Católica o 109.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.

Na Eucaristia, presidida na manhã do encontro pelo bispo do Algarve, no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, em Loulé, D. Manuel Quintas lembrou o tema escolhido pelo Papa para a edição deste ano: ‘Livres de escolher se migrar ou ficar’.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo diocesano evocou os “refugiados que chegam, de maneira particular, às costas da Europa mediterrânica, particularmente à ilha de Lampedusa com o sonho muito grande no seu coração em relação ao melhoramento da sua vida, bem como das suas famílias”. D. Manuel Quintas apelou à oração por eles e pela paz na Ucrânia. “Estamos sempre unidos e a lutar convosco e a rezar pela paz”, afirmou aos ucranianos presentes.

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O responsável católico realçou ser “grande” o “sofrimento de tanta gente”. “Sentimo-nos muito próximos de vós, caros ucranianos. Gostaria que aqueles que estão entre nós, que vieram, que nos procuraram, que encontrassem a paz que no vosso país não foi possível encontrar e que encontreis as condições de poder levar a vida para a frente”, reforçou.

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O bispo do Algarve considerou aquele encontro como a “festa dos povos de Deus”, “em espírito de família e de acolhimento mútuo”, a “festa da fraternidade universal que Cristo veio propor como caminho da verdadeira felicidade”. “Sentimo-nos em comunhão com todos os povos que há no mundo. Este dia é mesmo para ser vivido como uma festa. Esse é o sonho de Deus para nós, como Pai que nos ama como filhos, que todos os povos do mundo se sintam irmãos”, prosseguiu, acrescentando que “a guerra nunca leva a nada, a conclusão nenhuma” e “só destrói”.

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D. Manuel Quintas exortou a caminharem “todos na mesma direção que é a construção desta fraternidade que inclua tudo e todos”.

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A Missa ficou ainda marcada pelo emocionado relato de Tetyana (ver vídeo abaixo), que veio de Kherson, no sul da Ucrânia, fugida à guerra e testemunhou as atrocidades que continuam a ser cometidas na zona esquerda da cidade que continua sob domínio russo. “Quando estás sob ocupação perdes todos os direitos, o direito à segurança, à proteção ou à dignidade. Não és dono do teu próprio corpo. Os teus filhos deixam de ser teus. Atualmente, se os ucranianos não aceitarem o passaporte russo as suas casas podem ser confiscadas e podem ir para a rua, sem acesso a medicamentos. Todos os seus haveres de valor já lhes foram roubados”, contou.

Aquela ucraniana relatou que “os homens são torturados” e “as mulheres são repetidamente violadas pelos soldados, incentivados pelo exército russo a fazerem-no”. “As crianças são retiradas às famílias e levadas para a Rússia para adoção. Se isso não é o inferno na terra, o que é?”, acrescentou.

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No entanto, para além do mal a que assistiu, Tetyana testemunhou o bem de quem ajuda o próximo. “Testemunhei o mal, implacável e interminável, mas ao mesmo tempo testemunhei o bem verdadeiro de pessoas que, em condições terríveis, ajudavam o próximo, partilhavam comida, roupa, medicamentos, tudo”.

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Na celebração, que contou com uma representação consolar de Angola e com a presença da embaixadora cônsul-geral do Brasil no Algarve e do presidente da Câmara de Loulé, foi ainda apresentada a nova composição do Secretariado da Mobilidade Humana da Diocese do Algarve, nomeado em junho passado por D. Manuel Quintas, organismo através do qual a diocese promoveu aquele encontro.

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A nova equipa tem como diretor o padre Rafael Bruno Ferreira, brasileiro, e como assistentes os padres Oleg Trushko, ucraniano, e Paulinus Anyabuoke, nigeriano, que concelebraram a Eucaristia. São colaboradores Oksana Turyk, ucraniana, Vera Costa, cabo-verdiana, Selma Ferreira, brasileira, e Elisabeta Ecaterina Necker, romena.

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Depois da Eucaristia, concelebrada também pelo vigário-geral da diocese algarvia, o cónego Carlos César Chantre, o encontro, organizado em parceria com a Câmara de Loulé, teve continuidade com o almoço com diversos sabores gastronómicos partilhados pelos participantes e o convívio no salão de festas da Câmara Municipal.

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