
O dia 15 de abril de 2019 ficará para sempre marcado por um facto que chocou o mundo: o incêndio na Catedral de Notre-Dame de Paris. Este maravilhoso templo, cuja construção se iniciou em 1163, um dos mais importantes exemplos do gótico no mundo e o monumento mais visitado da Europa, ardeu na sequência de obras que ali se realizavam, precisamente com o intuito inverso: a sua preservação e recuperação.
Este espaço testemunhou longos séculos de história e de acontecimentos que a tornaram mais ou menos útil, mais ou menos querida, mais ou menos utilizada, mas a verdade é que foi reconhecida pelo povo, pelos intelectuais, pelos escritores e políticos como o coração da cidade de Paris, ponto de encontro de locais e visitantes, sinal do nascimento desta importante cidade e marca do seu relacionamento com o Cristianismo e com o mundo da cultura e das artes.
Não sei como será o processo da sua reconstrução, mas acredito que será reconstruída e de novo nos encantará com as suas gárgulas meditativas, com os seus recantos sombrios, com as suas colunas imensas, com os seus tesouros de séculos. Sobretudo, voltaremos a perder o olhar nos seus vitrais, obras de uma beleza única.
Acredito que seremos capazes – e já há sinais disso, com as imensas verbas doadas para a recuperação do espaço! – de reerguer este tesouro da Humanidade e de vencer não a natureza e os seus acidentes catastróficos, mas de vencer a incapacidade que tantas vezes surge nos homens em momentos de perda. E sem meios aéreos envolvidos, que sugeridos por quem tem histórias curtas, mas sobretudo ideias pequenas, não fazem falta nesta história!…
Acredito que destas cinzas sairá algo mais grandioso que o espaço meramente físico, pois serão postos ao serviço da arte, da cultura e do património os mais importantes talentos e inteligências.
Acredito que mais cedo do que pensamos a Praça em frente à Catedral se voltará a encher de turistas sorridentes, que levarão ao mundo inteiro as imagens deste símbolo de Fé e de Cultura.
Acredito que a Páscoa em breve voltará a ser ali celebrada, porque a Ressurreição será ainda mais significativa e importante num local onde as mãos dos homens se darão para criar de novo vida.
É preciso ter Fé. Nesta Semana Santa tudo converge para este pensamento: na televisão, os filmes de animação oferecem-nos o “Panda Kung-Fu”, que com a sua ingenuidade e boa disposição nos ensina isso. Na natureza, tudo renasce, nesta Primavera que enche de cor os nossos campos e jardins, depois do Inverno frio e com dias curtos. Nas nossas casas entra a alegria das festas, com a azáfama que lhe é característica e que resulta na partilha final, em sorrisos e boas memórias. Nas nossas Igrejas meditamos o mistério maior que nos une: crer na ressurreição que nos foi oferecida pelo amor de Cristo.
É preciso ter Fé, porque é a Fé que nos move e que nos pode fazer crescer, ser melhores, erguermo-nos e aproximarmo-nos do nosso ideal maior. Sem Fé nada acontece, porque é ela o motor do mundo, ainda que os não crentes se julguem intocados por ela. O nosso poeta imortal, Luiz Vaz de Camões dizia: «Quanto mais pode a fé que a força humana». Santo Agostinho, também acreditava que «ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser» e que «se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue». Victor Hugo, escritor francês que estará sempre ligado à Catedral de Notre-Dame, por ter escrito a obra Notre-Dame de Paris (1831), também descreve a essência deste crer que faz nascer asas nos homens, mesmo nos que menos se sentem capazes do que seja: «A fé, esse puro facho que aprisiona o temor, essa palavra de esperança escrita na última página, esse batel no qual pode salvar-se a tripulação»…
Que vença a Fé, pois se assim for, seremos guiados por um bem sem tamanho e estaremos mais perto de construir a Igreja Celeste nesta terra que às vezes nos parece tão imperfeita.
A todos desejo uma Santa Páscoa, cheia dos dons de Deus, sobretudo, cheia de Fé!