O reconhecimento de cem anos de serviço
A receção de ontem do Presidente da República à imprensa centenária portuguesa – na qual se inclui Folha do Domingo – no Palácio de Belém revestiu-se de pleno significado e simbolismo pelo que representou.
Como referimos por ocasião da celebração do centenário de Folha do Domingo a 19 de julho de 2014, um órgão de comunicação chegar a completar cem anos de vida, passando por tempos de constrangimento, como os de sujeição a uma comissão de censura imposta pela ditadura de um regime, de incerteza e de mudança de ordem social, económica e tecnológica, é, de facto, um feito notável.
O mais alto representante da nação quis assinalar isto mesmo e manifestar publicamente o reconhecimento de todo o país pelo serviço prestado a Portugal pelas 31 publicações centenárias.
Pelo dia escolhido para esta receção, a Presidência da República quis também sublinhar o contributo das publicações homenageadas na restituição e manutenção da Democracia em Portugal, dos seus direitos, liberdades e garantias como a Liberdade de Imprensa e o Direito à Informação.
Mas o significado daquele reconhecimento não se esgota no serviço de cada publicação presente em Belém. Cada título centenário representou-se não apenas a si próprio, mas a todos aqueles, entretanto desaparecidos, que prestaram igual serviço à nação. Representou igualmente a todos os que, ainda não tendo chegado a alcançar tal longevidade, trabalham diariamente em cada região de Portugal na prossecução dos mesmos objetivos, debatendo-se com as mesmas dificuldades. No reconhecimento feito a Folha do Domingo são todas as publicações algarvias que se devem sentir honradas e reconhecidas.
No nosso caso, sentimos que a homenagem é de toda justiça e devida ao esforço da Igreja algarvia para manter este serviço em situações tão adversas como, desde logo, a do seu nascimento no período de repressão da Primeira República que ditou a necessidade de evidenciar na primeira página a indicação de que a sua publicação se fazia com licença da autoridade eclesiástica e não do Estado.
Nesse sentido, importa destacar o apoio incondicional dos oito bispos do Algarve que em nós confiaram, nos acompanharam e nos impulsionaram, mas também a craveira espiritual, intelectual e humana de homens que consagraram o melhor da sua inteligência e vontade com grandiosa dedicação e amor à causa da imprensa nesta diocese e nesta região e as sucessivas gerações de trabalhadores e colaboradores – muitos já a viver a terceira parte da eternidade – que construíram este centenário, doando-lhe grande parte da sua existência terrena.
Neste tempo em que tudo parece condenado a uma efemeridade quase sempre imposta pela ditadura de uma economia descentrada do homem, o futuro, ainda que carregado de incerteza, deve ser olhado com prudência e serenidade, mas também com a mesma esperança e determinação de ontem.
Com muita atenção aos novos códigos que se vão impondo com grande velocidade na contemporaneidade da comunicação, continuemos a tentar cumprir esta missão de servir os nossos leitores, aos quais se deve a nossa existência.