2 – Existe uma verdadeira unidade entre os dois Testamentos. Aliás, o próprio Novo Testamento aponta para o Antigo e reconhece-o como verdadeira Palavra de Deus. Por sua vez, o Antigo acena, constantemente para o Messias que há-de vir, no qual se cumprirão todas as Escrituras. Jesus de Nazaré foi judeu e a Terra dos acontecimentos do Antigo Testamento é também a terra-mãe da Igreja, instituída por Cristo.
Com efeito, Cristo morreu, segundo as Escrituras e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras (Cf. 1Cor.15, 3-5). Há, pois, em Cristo (no Novo testamento) uma continuidade do Antigo, há um cumprimento e uma superação. O mistério pascal de Cristo está plenamente de acordo com as profecias e o aspecto pré-figurativo das Escrituras; mas apresenta também evidentes aspectos de descontinuidade, relativamente a certas instituições do Antigo Testamento. Nós, cristãos, lemos o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Mas, de modo semelhante, devemos ler o Novo, tendo em conta o Antigo. Como dizia Santo Agostinho: «O Novo Testamento está oculto no Antigo e o Antigo está «patente no Novo». Há, pois, uma íntima relação entre os dois Testamentos, ou como dizia S. Gregório Magno: «aquilo que o Antigo Testamento prometeu, o Novo Testamento fê-lo ver; o que aquele anuncia, de forma oculta, este proclama abertamente como presente. Por isso, o Antigo Testamento é profecia do Novo Testamento; e o melhor comentário do Antigo testamento é o Novo testamento».
Se consideramos como património da Fé cristã o Antigo Testamento, então muito temos de agradecer aos estudiosos dessa primeira parte da Bíblia pelo património que nos legaram. De resto, ainda hoje, nos poderá ser muito útil o contributo judaico na interpretação da sua Bíblia.
*Bispo emérito do Algarve
O autor deste texto não escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico