1 – Somos membros de um Povo, congregado pela Palavra de Deus. Professamos nela a nossa fé. Deus, com efeito, dirige-nos a sua palavra, pela qual nos interpela, como pessoas capazes de assumir responsabilidades, enquanto membros constituintes do «corpo» de Cristo. Esse Povo, de que fazemos parte, esse «Corpo» de que somos membros, é a Igreja de Cristo. Foi pela proclamação da palavra que a Igreja nos despertou para Fé (Cf. Rom.10,14-17); é pela palavra que nós aderimos à Fé que a própria Igreja professa; é no interior da Igreja que havemos de fazer a verdadeira busca do sentido da Escritura, com a luz do Espírito Santo. Com efeito, o mesmo Espírito que iluminou alguns membros do Povo de Deus para escreverem os livros sagrados, ilumina, também agora, os actuais membros desse Povo, para que entendam o significado autêntico desses escritos, no interior da comunidade que os originou. Não admira, portanto, que a Igreja, no decorrer dos tempos tenha sempre tido a preocupação de tornar presente a palavra da Escritura junto dos seus membros, reunidos em assembleia. É que ela está convencida que Cristo está presente na Palavra, «pois é Ele que fala quando a palavra é proclamada na Igreja» (SC7).

Desta convicção da Igreja nasce o seu cuidado constante em educar os fiéis para que saibam «saborear» o sentido da Palavra de Deus, no decorrer da Liturgia de cada dia, como quem saboreia um alimento partido aos bocadinhos.

2 – Se, efectivamente, nós, todos os membros do Povo de Deus, soubéssemos aproveitar as ocasiões em que a Palavra de Deus nos é apresentada pela Igreja, como viveríamos identificados com o plano divino a nosso respeito, como caminharíamos, na senda da perfeição! A Palavra de Deus «espreita-nos» e «persegue-nos» a cada instante, em todos os actos litúrgicos: nos sacramentos, nos sacramentais e, sobretudo, na Liturgia da Eucaristia. São inúmeras as ocasiões que a Igreja nos proporciona uma escuta comunitária da Palavra de Deus!

No decorrer dos Domingos do ano, «a mesa da Palavra» é abundante, e é nova em cada «dia do Senhor», porque só se repete de três em três anos, percorrendo parte significativa do Antigo Testamento e do Novo, nomeadamente dos quatro Evangelhos. Mas também as celebrações da Eucaristia, em dias de semana, nos proporcionam um contacto riquíssimo com a Palavra de Deus. De facto, podemos, nelas, escutar vários textos do Antigo Testamento e do Novo, sem grandes repetições, visto que elas estão distribuídas num ciclo de dois anos, sendo sempre diferentes, se exceptuarmos os textos evangélicos que são repetidos ano a ano.

Mas a abundância da Palavra na Liturgia não se esgota nas celebrações eucarísticas: Em cada celebração de um sacramento, há sempre uma celebração prévia da Palavra; em cada sacramental, está prevista, pela Igreja, uma pequena celebração feita com a Palavra de Deus. Se toda esta variedade e riqueza da Palavra for aproveitada e vivida por nós, como seremos perfeitos!

D. Manuel Madureira Dias
*bispo emérito do Algarve

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico