Nestes tempos da Covid-19 parecem ter-se acentuado em todos as emoções. Vivemos sentimentos confusos, relacionados com medo e com angústia, em muitos casos motivada pela incerteza financeira promovida por esta doença e pela crise a ela associada. Mas não me parece que sejam só os problemas da pandemia a motivar alterações menos positivas no estado emocional dos nossos cidadãos. Aliás, nem sei bem como encontrar a causa, pois há tantas coisas que contribuem para ver à minha volta gente deprimida, gente descontente com a vida familiar, muito descontente com a vida profissional, gente verdadeiramente triste e amargurada, que perde a esperança e a certeza de que pode construir uma existência, senão completamente feliz, pelo menos com um grau de autossatisfação alto.

É verdade que nas nossas vidas profissionais encontramos muitas complicações: quem tem responsabilidades de gestão, sobretudo de pessoas, vive em constante sobressalto, quer porque não se cumprem os mínimos necessários para o desenvolvimento de um serviço de qualidade, quer porque não há espírito de corpo e, logo, cada um se preocupa somente consigo e não com a instituição/empresa onde trabalha, quer mesmo porque cada um busca o seu próprio protagonismo, não se importando de passar por cima de quem for, de modo a atingir objetivos meramente pessoais, egoístas e que muitas vezes geram o desconforto e a necessidade de serem tomadas atitudes drásticas. O mais básico respeito pelo outro é perfeitamente ignorado, considerado mesmo desnecessário e, infelizmente, todos os meios servem para denegrir e desgastar aqueles de quem não se gosta, sabe-se lá, às vezes, porquê.

Ouvimos frequentemente: «Fulano está de baixa porque tem um péssimo ambiente de trabalho; sicrano está com uma depressão causada por um colega desleal». Vivemos deprimidos, porque somos permanentemente julgados por quem está ao nosso lado e se considera, em tudo, melhor que nós.

A gratidão e o reconhecimento pelo papel dos demais na nossa vida – às vezes tão importante, em determinados momentos, em que nos ajudaram ou em que até pediram por nós a outros! – é esquecido. Vivemos o agora, vivemos a vontade de olhar somente para nós no pequeno espelho das nossas vidas individuais. Não temos o sentido do próximo, o sentido tão profundamente cristão do próximo, esse próximo sem o qual não conseguimos fazer nada e sem o qual não nos conseguiremos salvar! Preferimos ridicularizá-lo porque nos incomodou de alguma forma, mesmo sabendo, amiúde, que o que dizemos, escrevemos, publicamos não é verdade e só revela a pequenez da nossa própria natureza; preferimos recorrer à má língua, ao invés de ter conversas sinceras e francas com quem está perto de nós, seja um amigo, o patrão, um colega de trabalho; preferimos a manipulação e a dissimulação, ao invés da frontalidade e da honestidade que deveria nortear o coração de todos os humanos e, mais ainda, os daqueles que professam acreditar no Cristo Redentor, que um dia disse: «O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei» (João 15:12)». Esquecemos o significado da palavra lealdade, ou seja, esquecemo-nos de como é ser-se fiel, franco, delicado, sincero. E esse esquecimento faz-nos ser desleais para com as promessas que aceitamos com o nosso batismo.

Eu não tenho soluções fáceis, mas elas estão claramente escritas na Bíblia, de muitas formas e por muitas vozes. Eu escolho a de S. Paulo para vos dizer que se formos todos melhores uns para os outros, se fizermos menos mal uns aos outros, seremos mais felizes. Eu quero ser feliz e quero ver gente feliz à minha volta.

«Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos» (Colossenses 3:12-15).