A solenidade de São Vicente que a Igreja celebrou ontem foi vivida em todo o Algarve por se tratar do padroeiro da diocese e, de maneira particular, em Vila do Bispo pelo diácono martirizado ser também o patrono daquele município.

O bispo do Algarve voltou a presidir à Eucaristia na igreja matriz de Vila do Bispo e à procissão que se lhe seguiu durante a tarde pelas principais ruas daquela localidade com a relíquia d. Na celebração, D. Manuel Quintas evidenciou que a “primeira lição” dos mártires é a da “convicção”. “Sabiam perfeitamente, que assumindo aquela opção, pagavam com a vida. Mas tinham também a certeza de que perder a vida para eles significava ganhá-la para sempre, significava encontrar a verdadeira vida a que chamamos eterna porque não termina mais”, referiu.

“Estes mártires dos primeiros séculos e de sempre, a primeira lição que nos dão é a da convicção. É isso que faz falta um bocadinho nos dias de hoje. Precisamos de ser pessoas de princípios que iluminem e que norteiem a nossa vida. Por vezes, somos tentados a viver mais de convenções do que de convicções, a viver mais da imagem do que da realidade. Por vezes, ocupamo-nos num faz de conta e, às vezes, descansamos quase a consciência nisso. O resultado é uma vida sem sentido, vazia, que se esboroa entre os dedos, que pouco aproveita, prosseguiu.

O bispo diocesano considerou São Vicente uma “referência”. “Os mártires e, concretamente, São Vicente continua a ser para nós este luzeiro a dizer-nos: «é por aqui que vocês têm que caminhar». Nós, como Igreja Diocesana do Algarve, sentimo-nos herdeiros do seu testemunho, do seu contributo decisivo para o fortalecimento da fé de quantos aqui, marcados pelo seu exemplo, a viveram, a celebraram e a foram transmitindo através das gerações. Por isso, queremos também hoje conhecer a sua vida e o seu testemunho como diácono e mártir para o venerarmos, para o conhecer melhor”, acrescentou, lamentando haver “um grande desconhecimento” sobre o padroeiro.

D. Manuel Quintas referiu-se à relíquia do mártir que a Diocese do Algarve pediu ao Patriarcado de Lisboa e que foi entregue no último domingo na Sé patriarcal. “Já tínhamos aqui uma convosco que era única na diocese, mas gostaríamos de ter também uma na Sé, a nossa catedral, que é também o coração da Diocese do Algarve”, referiu, explicando que o gesto manifestou o “sentido de comunhão eclesial entre as duas dioceses, os dois bispos, as duas Igrejas”.

“A relíquia é algo que é referência. Não é para ficarmos a olhar para ela. Recorda-nos sempre a pessoa a quem ela pertenceu e os princípios que nortearam a vida dessa pessoa. A relíquia leva-nos, neste caso, a São Vicente e São Vicente leva-nos a Cristo. Por isso, a relíquia é sempre algo que nos projeta no além, em algo mais importante. A relíquia é um meio. Não é um fim em si mesma, é apelo a viver a nossa vida como viveu aquele a quem pertenceu essa relíquia”, clarificou.


O bispo do Algarve, que fez referência ainda à história do diácono da espanhola Diocese de Valência martirizado no ano 304, pediu a intercessão de São Vicente para a construção da paz e para o crescimento na consciência de serviço. “Que possamos também nós crescer no serviço e na dedicação aos outros que caracteriza a vocação e a missão dos diáconos e também que possamos crescer no testemunho do anúncio do Evangelho, da pessoa de Jesus, mais por obras do que palavras, tal como ele o fez”, apelou.


A Eucaristia, que contou com a participação da presidente da Câmara Municipal, Rute Silva, e da vice-presidente Dora Guerreiro, foi concelebrada pelo pároco de Vila do Bispo e Sagres, padre José Chula, e contou com o serviço do seu pai, o diácono Manuel Chula.