Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo D. Francisco Gomes do Avelar, que esteve à frente da diocese algarvia de 1789 a 1816, foi destacado no Fórum “Pensar Faro” pela “marca inolvidável” e por ter sido “pioneiro” na salvaguarda do património artístico e arquitetónico do Algarve após o terramoto de 1755.

“Numa época marcada pelo desrespeito pelo património cultural, o bispo foi um autêntico pioneiro na defesa da herança artística e arquitetónica do Algarve, uma vez que procurou sempre restaurar e não simplesmente reconstruir os edifícios arruinados, optando sempre por preservar os elementos característicos de séculos anteriores”, afirmou o investigador Jorge Carrega, do Centro de Investigação em Artes e Comunicação.

Na sua comunicação sobre o tema “O Terramoto de 1755 em Faro e a ação mecenática do Bispo D. Francisco Gomes do Avelar”, o orador, que também destacou a reforma pastoral promovida pelo prelado, lembrou que a ele se deveu a reconstrução da catedral de Faro e das igrejas da Misericórdia, de São Pedro, de São Francisco, de Santo António dos Capuchos e do Carmo.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Relativamente à Sé, citando Horta Correia, Jorge Carrega lembrou que “o bispo trazia consigo uma renda anual de dois contos e 400 mil reis para a construção de uma nova igreja catedral”, sendo, no entanto, “claro desde o início a opção do bispo que foi sempre utilizar a verba ao seu dispor para restaurar antiga igreja que nesse ano já contava com cinco séculos de história”. “Podemos atribuir este grande monumento da cidade e do Algarve à visão do bispo”, acrescentou, considerando que essa “visão absolutamente invulgar no seu tempo” deixou “uma marca inolvidável no património algarvio”.

Na arquitetura, o investigador evidenciou ainda o Arco da Vila como “um dos monumentos maiores da ação mecenático do bispo”, lembrando que, segundo Anísio Franco, do Museu Nacional de Arte Antiga, “o mecenato artístico de D. Francisco Gomes do Avelar marcou profundamente estes anos de transição entre o século XVIII e XIX” e “antecipou a introdução do neoclassicismo em Portugal em cerca de 10 anos, tendo a inserção do vocabulário neoclássico ocorrido não apenas em termos arquitetónicos mas também na pintura”.

Nesta área, com a encomenda artística, que Jorge Carrega lembrou como “outra importante vertente da ação mecenática do bispo”, considerou de destaque o “conjunto de pinturas que serviram como instrumento de pedagogia da fé” atribuídas a pintores como Domingos António Sequeira, Vieira Portuense, Tommaso Conca, Marcello Leopardi ou Vincenzo Ferreri. Observou assim o “contributo extraordinário na disseminação dos valores do neoclassicismo” do bispo, “trazendo não só as obras, mas os próprios artistas” para o Algarve.

Classificando o prelado como “um dos mais dinâmicos e bem preparados os bispos portugueses” e “um dos mais ilustres bispos do Algarve”, Jorge Carrega considerou que “D. Francisco Gomes alinha com os princípios de um iluminismo católico que é profundamente reformador”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Desempenhou um papel admirável na revitalização do Algarve e da sua capital deixando para a história o legado que ainda hoje é bem visível”, afirmou, realçando “a diferença que fez este homem de visão”, uma “visão de perceber que um povo sem memória histórica não pode ter futuro, que o património é o testemunho do passado e dessa história e desses valores que era fundamental preservar apesar do estado de degradação em que se encontravam causado principalmente pelo terremoto de 1755 mas não só”, afirmou, lembrando que o bispo “não se coibia de criticar os responsáveis pelas igrejas em que julgava e acreditava terem sido realizadas ao longo dos anos intervenções que desrespeitavam a originalidade e a integridade desses mesmos monumentos”.

O Fórum “Pensar Faro”, subordinado ao tema “A História e o Património Cultural de Faro”, inseriu-se no âmbito do Ano Europeu do Património Cultural – 2018 e decorreu nos passados dias 9 e 10 deste mês na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve promovido pela União de Freguesias de Faro.