O presidente do Conselho Económico e Social (CES) referiu-se ao contributo histórico na Europa da Doutrina Social da Igreja para a construção dos Estados providência que “marcaram e que ainda marcam a vida europeia”, por via das “formações democratas-cristãs em articulação com os grandes partidos social-democratas”.
“Por muita crise em que estejam, ainda existem, ainda são fortes e ainda estabelecem uma diferença muito grande em relação a outras zonas do mundo”, considerou Francisco Assis, convidado pela paróquia de Monte Gordo para refletir sobre o “lugar da Igreja face aos desafios socioeconómicos hodiernos”.

Na conferência, que teve lugar ontem à noite no salão paroquial com a participação de cerca de 40 pessoas, Assis disse ainda que “o Cristianismo foi uma religião que permitiu uma certa saída da religião da sociedade, no sentido de que permitiu às sociedades respirarem”. “Outros não o estão a permitir”, lamentou, considerando que neste momento “há um problema sério e ameaças ao mundo ocidental”. “Tal como as outras civilizações têm o direito de se defenderem, a nossa também tem”, acrescentou.
“O que a nossa civilização tem de melhor é o que estamos a fazer aqui hoje. Estamos aqui, num espaço com uma componente religiosa, a discutir abertamente os mais diversos temas da sociedade, sem estarmos a indagar se A pensa assim ou B pensa assado”, prosseguiu, defendendo que “esta evolução resulta de várias heranças: da herança grega, democrática, filosófica e trágica até; da herança cultural helenística, da herança romana, da herança do Cristianismo, do Iluminismo”. “Algumas até parecem contraditórias, mas nós conseguimos na Europa criar uma síntese em que elas se acabaram por revelar complementares. Temos o privilégio de viver num espaço cultural e civilizacional bastante mais interessante do que outros e a Igreja Católica deu um contributo importante para que assim fosse”, considerou.

Francisco Assis disse ainda que “o fim das grandes ideologias e do grande confronto ideológico, que marcou o mundo durante o século XX”, “foi terrível” e “veio trazer ao de cima a grande heterogeneidade civilizacional do mundo”. “Hoje os grandes conflitos que temos são muito conflitos em termos civilizacionais e que não são resolúveis com boa vontade e com grandes declarações de intenções. Não é possível”, desenvolveu, considerando ser “muito difícil projetar valores de uma cultura noutras culturas”. “Nós temos no ocidente, neste momento, de ter a preocupação também de defender o melhor que o ocidente tem que é uma sociedade livre, onde as pessoas têm direitos, que atingiu níveis de prosperidade que nenhuma outra civilização atingiu até nós”, continuou.

O presidente do CES disse ser “evidente” que “não se consegue projetar a democracia noutras civilizações de modo muito simples porque há uma rejeição”, lembrando que “a democracia resultou de uma maturação progressiva, histórica que ocorreu num determinado espaço civilizacional para o qual concorreram vários fatores de ordem mental, cultural, filosófica, religiosa”.

Considerando a imigração um “tema vital para o país” porque Portugal está em “recessão demográfica” e precisa de imigrantes, aquele responsável disse ainda que o CES está a trabalhar também nessa área. “Se nada for feito, em 2070 seremos cerca de sete milhões”, alertou, acrescentando ainda razões de ordem laboral. “Temos um sério problema de mão de obra agrícola, mas na atividade industrial também temos e agora até temos no turismo. Isso resolve-se facilitando o acesso de imigrantes, só que temos de criar as condições para que as pessoas se integrem na sociedade portuguesa porque de outra maneira estaremos a criar guetos de um lado e racismo e xenofobia do outro”, referiu, alertando que, “se não houver uma política séria de integração, começará a haver problemas”.