Os trabalhos de alguns teóricos da comunicação deixaram marcas no mundo contemporâneo, referências que passaram para o senso comum e são usadas e apropriadas por todos os cidadãos, muitas vezes sem que tenham a consciência e a perceção de qual a origem das mesmas. Veja-se o caso da expressão “aldeia global/global village”, usada por todos, sem que a esmagadora maioria reconheça em Marshall McLuhan (investigador canadiano) o seu autor e, muito menos, entenda a dimensão real do conceito.
A facilidade de que tal aconteça com os termos associados à tecnologia e que são mais recentes é grande. Entram num certo modismo, graças à sua abundante presença, sobretudo, nos meios de comunicação.
Há muito pouco tempo, começámos a questionarmo-nos sobre uma nova temática, mencionando-a nas conversas de café e noutros âmbitos, mais académicos. Falo da Inteligência Artificial (IA) e de tópicos como o Mataverso, a Realidade Aumentada, a Realidade Virtual, cujas menções já permitem que entrem no léxico quotidiano, mas a verdade é que poucos saberão bem o que querem dizer. Facto é que ainda há quem não seja capaz de diferenciar o que é a Internet, as Redes Sociais e as plataformas diversas, assim como as aplicações, sem as quais, na verdade, já pouco fazemos.
As características e possibilidades que estas novas realidades permitem à Humanidade são imensas, estando em aplicação, há mais tempo do que supomos, em áreas como a Medicina, a Arte, a Economia, entre tantas outras. , ao sermos atendidos num qualquer contacto através de uma plataforma de uma empresa por um assistente, estamos, na verdade, a contactar com este tipo de ferramenta, já que, na maioria dos casos, são assistentes virtuais e não pessoas que estão do outro lado. Também já muitos de nós experimentámos o Chat GPT, que é o exemplo mais próximo de percecionarmos o que pode ser a IA, com o qual poderemos contactar. Fazemos questões, pedimos a criação de textos, imagens, enfim, vamos interrogando a máquina, que nos fornece aquilo que soubermos pedir e que vai aprendendo com as nossas perguntas. E maravilhamo-nos, ou, pelo contrário, assumimos posturas muito críticas, mas pouco fundamentadas, porque assentes em escasso conhecimento. Gosta-se, ou odeia-se. Sem razões ou argumentos sólidos.
Na verdade, a análise, mais do que a crítica, será necessária, mesmo indispensável, mas temos de partir de um outro ponto: da descoberta sobre nós mesmos, sobre o que somos e como pensamos, quais os processos que interferem na nossa cognição e emoção. Estou certo de que se eu perguntar quem sabe o que é a Inteligência Linguística, ou a Inteligência Interpessoal, ou qualquer outra identificada por Howard Gardner (investigador dos EUA) na sua Teoria das Inteligências Múltiplas, poucos me responderão afirmativamente. E, todavia, são parte de um processo pelo qual passam todas as sociedades, cada um de nós, em todas as épocas e momentos e, são elas, na verdade, que nos conduzem aos progressos tecnológicos, societais, científicos, artísticos, económicos. Podemos e devemos inquietar-nos com a possibilidade de a IA promover a redução de empregos; podemos e devemos perceber como afetará a nossa espiritualidade; podemos e devemos refletir sobre o que pode trazer no campo da sociabilidade, da identidade e da autenticidade, entre muitas mais dúvidas.
No entanto, as alterações promovidas nas sociedades hodiernas, por estas criações, são fonte de construção de significados, de relações, de pensamento e, nada saber sobre elas, ou decidir viver apartado de qualquer contacto será, como dizia Manuel Castells (sociólogo catalão e investigador das questões da comunicação), estar excluído do mundo real, porque no presente é em rede e no digital que vivemos grande parte da nossa vida e é a rede que enforma o espaço e o tempo. E que estranho seria que não fizéssemos um esforço por compreender aquilo que é fruto e criação do Homem, para o bem e para o mal. Sobretudo, porque se desejamos que sirva o bem, é preciso que a levemos nessa direção. E, assim, poder-se-á transformar em oportunidade da Graça de Deus.