O Dia Diocesano do Catequista, promovido pelo Setor da Catequese da Infância e Adolescência da Diocese do Algarve, contou no sábado com um painel que procurou ajudar a refletir sobre os desafios que se colocam hoje à educação cristã de crianças e adolescentes.
Aquele espaço, que se debruçou sobre o tema do encontro — “A catequese na minha vida” —, teve como intervenientes o casal Rita e João Pedro Santos, catequistas coordenadores da catequese da paróquia de São José do Algueirão do Patriarcado de Lisboa e colaboradores do mesmo setor a nível diocesano e também do Departamento da Catequese do SNEC; Eunice Lourenço, catequista na paróquia de Vila Verde dos Francos, concelho de Alenquer, da mesma diocese; e o padre Getúlio Bica, sacerdote da Diocese do Algarve que abraçou aquele ministério de educador na fé ainda na sua paróquia natal.
João Pedro Santos, que também começou cedo a ser catequista, mal deixou de ser catequizando, testemunhou que o “caminho com os pais é muito desafiante”, mas não pode deixar de ser feito em conjunto e exortou ao conhecimento dos agregados das crianças. “Conhecermos as famílias e elas saberem que podem contar connosco”, aconselhou, alertando: “quando temos 20 crianças, não temos apenas 20 crianças. Temos 20 famílias com as suas especificidades”.

No entanto, lembrando que o novo itinerário para a catequese em Portugal prevê “que os pais estejam muito mais envolvidos na catequese”, aquele educador reconheceu existirem pais que “não querem ser envolvidos” porque “querem descartar esta missão de educar na fé”. “Andamos todos a tentar descobrir como é podemos ajudar as famílias, como é que as famílias querem ser ajudadas, como é que deixam ser ajudadas, se têm noção que precisam de ajuda”, referiu, acrescentando que é preciso “ser tolerantes, ouvir e acompanhar”, estar com as famílias e perceber que “não há fórmulas secretas nem soluções para todos”.
Por outro lado, João Pedro Santos, que também é catequista de adultos, aconselhou cada colega a perceber o que é que está a precisar. “Partilha, formação? Somos muitos e podemos não precisar todos do mesmo”, frisou, aconselhando ao “espírito de Igreja” para se irem “apoiando e acompanhando uns aos outros”.
Rita Santos, que começou a ser catequista porque um dia o marido — na altura namorado — a convidou, sublinhou a importância de “envolver mais as famílias” no processo catequético. “Temos de ser mais criativos, mas na realidade ninguém nos ensinou como é que se faz. Queremos descolar-nos da escola, mas isso também leva tempo. Até porque as famílias têm o seu tempo e a sua vivência”, referiu, aconselhando a ouvir os jovens para saber o que esperam que se faça com eles.
Eunice Lourenço, que também abordou a passagem a uma “catequese menos escolar”, defendeu ser necessário “voltar a contar histórias”. “A catequese tem de ser vivencial, tem de voltar a contar histórias, tem de ser um espaço de grande liberdade em que não podemos recusar falar de nada”, afirmou a oradora, que é também editora de política do jornal Expresso e que disse sentir-se “catequista no jornalismo e jornalista na catequese”.

Eunice Lourenço aconselhou aqueles educadores a “estar o mais preparados possível para falar de tudo” com os catequizandos. “A catequese também tem de ser um lugar de muita verdade, onde eles muitas falam de coisas que não falam na escola e que não falam em casa. E isso traz-nos grandes desafios e grandes responsabilidades. Faz com que tenhamos de ter as «antenas» muito bem ligadas para as necessidades deles, ser capazes de ter uma formação que não é só catequética e estar suficientemente abertos e informados sobre o mundo para também podermos ter respostas e abordagens às inquietações deles”.
A catequista, que o começou a ser por volta dos 14 anos, aconselhou os colegas a “não confundir caraterísticas com dificuldades” dos destinatários da catequese. “Se não conhecemos bem as caraterísticas daqueles com quem estamos a trabalhar, nunca vamos conseguir falar para eles. E ainda pior se confundimos as caraterísticas com dificuldades”, advertiu.
Já o padre Getúlio Bica destacou a importância de o catequista ser um “exemplo vivo”. “Estar a transmitir uma palavra e depois, com as atitudes, fazer o contrário, não dá”, explicou, alertando os catequistas para irem “equilibrando as atitudes, as ações exteriores, com o desejo profundo que está no coração” porque “uma coisa tem de estar sempre em sintonia com a outra”.