Jornadas Nacionais da Comunicação Social realizaram-se em Fátima nos dias 26 e 27 de setembro

As Jornadas Nacionais de Comunicação Social (JNCS), que decorreram na passada quinta e sexta-feira, 26 e 27 de setembro, em Fátima, foram oportunidade para jornalistas, assessores de comunicação e investigadores refletirem o tema «Jornalismo e Inteligência Artificial».

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No encontro, promovido pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja Católica, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais (CECBCCS) sublinhou que existem “realidades que são únicas do humano e que nenhuma máquina, por muito inteligente que seja, pode substituir”.

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No encerramento das JNCS, que decorreu na Domus Carmeli (Carmelitas Descalços), D. Nuno Brás ressaltou que “os jornalistas, que são sempre fabricadores da realidade, veem agora uma grande concorrente chamada inteligência artificial”.

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“Como é que uma sociedade de egoístas vai ser capaz de tomar decisões para defender o humano e para impedir que o humano seja subjugado, seja esquecido pela Inteligência Artificial? Enfim, isto só significa que saímos daqui com mais interrogações do que com respostas”, referiu no encerramento do encontro que também contou com a presença de D. Pio Alves e D. Joaquim Dionísio, vogais da CECBCCS, Isabel Figueiredo, diretora do SNCS, e Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia.

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Na abertura do encontro, Francisca Seabra, da agência de comunicação Burson, disse que o grande desafio da Inteligência Artificial é “saber usar”, incentivando a aprender sem medo.

“A Inteligência Artificial não tem critério, o critério somos nós que o temos e esse é o lado humano a introduzir na equação. Nós somos seres inteligentes. Nunca utilizar a Inteligência Artificial sem pensar que quem tem o critério somos nós”, disse a CEO (sigla em inglês para diretora-executiva) da Burson.

Francisca Seabra, que foi convidada para falar sobre ‘Comunicação, criatividade e inteligência artificial’, partilhou a sua “visão otimista” da utilização desta ferramenta e a forma de “encontrar a humanidade na era digital”, na utilização das novas tecnologias.

Segundo a oradora, o “grande desafio é saber usar a Inteligência Artificial”, e ter como ponto de partida o que deve o ser o humano a fazer, e o que é que deve ser da Inteligência Artificial.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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A tarde do primeiro dia das Jornadas convidou os participantes, de uma forma prática, a abordarem as ferramentas da Inteligência Artificial para o jornalismo, num workshop, da responsabilidade de Ana Pinto Martinho e Ricardo Dias, do Cenjor, Escola de Formação profissional para jornalistas.

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No segundo dia, o padre Miguel Neto, doutorando do Doutoramento Interuniversitário em Comunicação da Universidade de Huelva (Espanha), disse que a literacia mediática é uma “habilidade importante” no mundo atual, onde a informação está disponível “em larga escala”, através da Internet.

“A literacia mediática é essencial para uma melhor qualificação de todos os cidadãos e para uma sociedade mais inclusiva e o desenvolvimento de competências de literacia mediática é essencial para o cidadão do século XXI”, disse o sacerdote da Diocese do Algarve na conferência ‘Literacia mediática para todos, todos, todos’.

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O primeiro conferencista da mesa-redonda sobre o tema ‘Jornalismo Artificial?’ sublinhou que a presença “no ambiente digital não se mede pela quantidade de informação que retemos”.

O padre Miguel Neto realça que a religião é uma realidade da vida humana e ocupa um “espaço significativo no ambiente digital”.

“É necessário transpor os valores judaico-cristãos, que estão na base da ética e do humanismo das nossas sociedades, para o ambiente digital, para que possamos ler e viver os mesmos valores humanos, tanto no ambiente físico como no digital”, apelou.

Neste contexto, o sacerdote da Diocese do Algarve defende o contributo da Igreja católica neste ambiente “não de uma forma meramente instrumental, mas como um espaço de vida e testemunho, onde a fé tem um lugar central e pode ser transmitida, partilhada e fazermos melhores cristãos e seres humanos”.

Para desenvolver uma “presença digital robusta”, acrescentou, a Igreja deve “promover iniciativas e projetos que fomentem a colaboração entre influenciadores digitais” e “criar grupos de estudo para investigar as implicações do ambiente digital e desenvolver estratégias pastorais apropriadas”.

Estas iniciativas ajudam “a fortalecer a rede de evangelizadores e a criar um espaço digital inclusivo e acolhedor”, concluiu o padre Miguel Neto.

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‘Verdade entre confrontos de certezas’ foi o tema que Isadora Ataíde Fonseca, docente da Faculdade Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH/UCP).

A docente universitária assinalou que nas plataformas digitais existem “constrangimentos colocados pelos grupos de interesse” e “promovem desigualdades entre elites e cidadãos”.

O jornalismo, recordou, é tradicionalmente visto como “o cão de guarda” da sociedade e “tem também um papel facilitador junto dos cidadãos”, situações que são colocadas em causa pela “mudança tecnológica”.

“A tecnologia é o elemento central do jornalismo digital devido às narrativas interativas”, declarou Isadora Ataíde Fonseca.

Em relação à ética e a inteligência artificial, a docente da UCP realçou que a moral se “situa nas interações entre humanos e tecnologias”, defendendo o desenvolvimento de “uma aproximação construtiva em ética aplicada”.

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Joana Beleza, subdiretora de áudio e multimédia no grupo Impresa, falou sobre ‘Inteligência Artificial e Jornalismo: uma Carta de Princípios’ começando por afirmar que “quanto mais” aprofunda estas temáticas “mais gosta de humanos”.

A conferencista realçou que a Inteligência Artificial “não substitui o trabalho dos jornalistas”.

“Qualidade e responsabilidade pelo conteúdo”; “a utilização da Inteligência Artificial em tarefas de suporte”; “a transparência”; “a propriedade intelectual”; “privacidade e confidencialidade” e “fontes de informação” são alguns pontos da carta de princípios sobre a utilização da Inteligência Artificial no jornal ‘Expresso’.

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A diretora do Instituto Bioética da Universidade Católica Portuguesa (UCP) afirmou que a Inteligência Artificial é uma ocasião para refletir sobre o futuro da humanidade. “A Inteligência Artificial é uma oportunidade única de nós pensarmos o que é que, de facto, nós queremos, para onde é que nós queremos caminhar”, referiu Mara de Sousa Freitas.

Na conferência de encerramento das JNCS com o título ‘Inteligência artificial: desafios éticos’, a diretora do Instituto de Bioética da UCP abordou o acelerar do crescimento da tecnologia que vem colocar desafios. “A mudança, a evolução, é desejável, é sadia”, mencionou a conferencista, acrescentando que o que está em causa é a “dimensão do tempo”, da ocorrência dos fenómenos “a uma velocidade vertiginosa ainda não compatível com aquilo que é a capacidade de o humano adaptar-se”.

“Outrora, tínhamos dezenas de anos em pequenas mudanças que a sociedade sofria. Atualmente, temos mudanças a cada dia, as quais […] simplesmente nos são impostas”, assinalou.

Para Mara de Sousa Freitas, “uma das questões centrais da Inteligência Artificial é o culto de um pensamento crítico e de uma consciência moral, clara e inequívoca” de cada um sobre as próprias escolhas e decisões.

A diretora do Instituto Bioética da UCP defende que a “Inteligência Artificial deve ser centrada na pessoa”.

com Agência Ecclesia