"Mas até ao momento a progenitora está a ter um comportamento exemplar”, revelou Rodrigo Serra, em conferência de imprensa no centro.
“Os primeiros 15 dias são cruciais, pois existe o perigo de a fêmea as abandonar, o que pode obrigar-nos a intervir para amamentar as crias numa fase ainda muito débil de desenvolvimento”, acrescentou.
“Estamos em alerta permanente, através do circuito interno de vídeo, para o caso de ser necessário a nossa intervenção”, sublinhou.
As duas primeiras crias de lince ibérico geradas em cativeiro em Portugal nasceram de parto natural, durante a tarde de domingo de Páscoa, e “estão a ser muito bem tratadas pela mãe, que se tem mantido junto às crias”.
“É impressionante, a progenitora está permanentemente metida na caixa parideira e a única coisa que faz é tratar das crias”, destacou Roberto Serra, acrescentando desconhecer “se são machos ou fêmeas, dado que os técnicos evitam a aproximação com os animais para não interferir no processo”.
“Só ao fim de sensivelmente 30 dias é que saberemos”, sublinhou.
O parto e a evolução das crias está a ser acompanhado também por uma técnica espanhola que, segundo Roberto Serra, “tem larga experiência, o que transmite tranquilidade”.
Os pequenos linces são a primeira descendência da fêmea Azahar – "flor de laranjeira" em árabe – que nasceu há cinco anos em liberdade e foi o primeiro animal a ser transferido de Espanha para o centro de Silves, em outubro passado, ao abrigo do plano ibérico para a conservação do lince, um felino ameaçado de extinção.
O pai, de nome Drago, nasceu em cativeiro em La Olivilla e é também um dos 16 linces que vieram de Espanha.
O diretor do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico classificou como “perfeita” a parceria conseguida entre Azahar e Drago: “Foi química apesar de fazermos as parelhas com critérios genéticos”.
“Nada diria que quando os juntámos em dezembro do ano passado se fossem dar bem. Mas deram-se perfeitamente e estiveram juntos até 15 dias antes do parto”, observou.
Segundo Roberto Serra, “Azahar começou a manifestar cio cinco dias antes das primeiras cópulas – a 29 de janeiro – o que prova que se adaptou rapidamente às nossas condições”.
Por seu turno, o presidente do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), Tito Rosa, considerou que o nascimento em Portugal das primeiras crias de lince geradas em cativeiro “é fruto do trabalho que o centro está a desenvolver e um grande estímulo para continuar”.
“Dissemos que o primeiro ano seria de experiência, porque sabíamos a responsabilidade que tínhamos e não queríamos falhar. Se alguma coisa acontecesse de feliz, seria ouro sobre azul. A Azahar brindou-nos com a cereja em cima do bolo”, concluiu.
De uma população de 100 mil animais no início do século XX, o número de linces ibéricos, considerados os felinos mais ameaçados do mundo, situa-se hoje na ordem das duas centenas em estado selvagem, além daqueles que são mantidos em centros como o de Silves.
Em Portugal, onde não eram avistados linces desde 1980, o objetivo do programa ibérico de reprodução é libertar os animais mantidos em cativeiro nos habitats naturais, como a serra da Malcata, e no sul do país.
Lusa