A apresentação da publicação “Pentateuco: 530 anos de livro impresso em Portugal (1487-2017)” ficou marcada pelo apelo à constituição de uma “rede de entidades que permita criar no Algarve as condições de patrimonialização da cultura do impresso”.

A ideia da “musealização do património e da cultura escrita impressa” é defendida no livro com organização editorial da investigadora integrada do CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Patrícia de Jesus Palma.

A obra, dada a conhecer no passado dia 6 de dezembro, no auditório da Biblioteca Municipal de Faro, reúne o conjunto de estudos apresentados no colóquio de 14 de julho de 2017, realizado em Faro, a propósito da efeméride em torno do primeiro livro impresso em Portugal.
Na sessão de apresentação, o representante da Direção Regional de Cultura, Rui Parreira, que introduziu a publicação, concordou que “o Algarve precisa de um museu da imprensa” e acrescentou que Patrícia Palma “acaba por identificar a Tipografia União como equipamento e contexto que reúnem as melhores condições” para essa musealização.

A investigadora lembrou que a Tipografia União, encerrada no final de 2012, “foi criada nos finais de 1909 para imprimir, nos inícios de 1910, o boletim oficial [da Diocese do Algarve] para começar aí a sua publicação que há-de dar depois origem à Folha do Domingo que continua a publicar-se desde então, sendo a publicação mais antiga que se publica no Algarve”.
“Esta tipografia tem uma história lata e foi inclusivamente, dos anos 40 aos anos 60, a oficina que mais jornais imprimiu. Neste período, praticamente todos os jornais do Algarve se imprimiram naquela casa”, prosseguiu Patrícia Palma na apresentação do livro, explicando que a antiga gráfica se especializou na impressão de periódicos.

A investigadora lembrou que Faro foi “cidade-berço da imprensa” em Portugal “logo nos primórdios do avanço da tipografia pela Europa”. “É dos primeiros países a acolher a atividade de tipográfica que entra pelo sul, pela cidade de Faro, através da comunidade judaica”, confirmou.

Rui Parreira disse ter sido D. Francisco Gomes do Avelar, bispo do Algarve entre 1789 e 1816, o responsável pelo regresso da tipografia. “Reintroduz no Algarve a imprensa por uma questão muito simples: era preciso imprimir a prosa panfletária antifrancesa”, defendeu, garantindo que “a partir daí as oficinas gráficas passam a multiplicar-se no Algarve e o Algarve reentra novamente na história do livro e nas culturas de escrita, do impresso”.
O representante da Direção Regional da Cultura lembrou que Patrícia Palma considera que a “intensa produção patrimonializável” que resulta desta atividade gráfica “requer a atenção das tutelas competentes”. Rui Parreira reforçou que essa patrimonialização deve ser feita “através de edifícios, maquinarias, coleções de edições e, sobretudo, também da componente imaterial”.
A impressão do “Pentateuco” (conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio) foi levada a cabo pelo judeu Samuel Gacon em Faro, em 1487, marcando o início da imprensa em Portugal.