A manifestação pública da campanha de Natal da Cáritas desafiou os participantes à construção da paz.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A iniciativa, que teve lugar na última sexta-feira à noite em Vila Real de Santo António, voltou este ano a realizar-se, após ter sido interrompida em 2019, uma vez que a celebração daquela iniciativa passou então a decorrer em conjunto com a da partilha da ‘Luz da Paz de Belém’, promovida pelo Corpo Nacional de Escutas (CNE).

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A manifestação pela paz da campanha ‘10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz’ teve início com a concentração junto à Escola de Hotelaria e Turismo, onde teve lugar o acendimento das velas com a chama da ‘Luz da Paz de Belém’, trazida por representantes do Agrupamento 1370 de Vila Real de Santo António e recolhida da gruta da basílica da Natividade, na Palestina, o local atribuído ao nascimento de Jesus, primeiro até à Áustria e depois daquele país até Portimão, onde decorreu no passado domingo a cerimónia nacional da sua partilha.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O presidente da Cáritas Diocesana do Algarve lembrou ser uma “luz que simboliza a paz” e uma “luz que é mais do que uma simples chama”. “Essa luz é Jesus, o príncipe da paz. Hoje, vinda daquela gruta, onde nasceu o salvador, chega até nós esta luz que queremos partilhar com todos para que ilumine os corações de tantos quantos ela alcançar”, introduziu Carlos de Oliveira.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Seguiu-se a caminhada em “silêncio orante” até à igreja matriz, onde decorreu a celebração. O presidente da Cáritas algarvia lembrou que a campanha de Natal daquela instituição da Igreja Católica tem todos os anos uma finalidade solidária através da aquisição das velas. “Este ano 35% das velas conseguidas com a venda das velas destinam-se ao apoio de microprojetos de ecologia integral nos países lusófonos, através da Cáritas Internationalis e os restantes 65% são aplicados pela Cáritas Diocesana na aquisição de material ortopédico como camas articuladas, cadeiras de rodas, andarilhos, canadianas, entre outros, que através das Cáritas paroquiais ou dos grupos sóciocaritativos serão colocados à sua disposição como resposta às necessidades dos mais necessitados”, detalhou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquele dirigente lamentou que o mundo continue “a ser assolado por situações de iniquidade, violência, e conflitos armados” que geram “sentimentos de medo, insegurança e até incerteza” e por “perseguições religiosas em muitos países”. “Quisemos testemunhar com a ‘Luz da Paz de Belém’ que é possível manter viva a esperança de um mundo melhor”, afirmou, considerando que “a paz é essencial para o crescimento do indivíduo, das organizações, da prosperidade das sociedades e para a sustentabilidade do planeta”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Carlos de Oliveira desafiou os presentes a serem “instrumentos de paz” nos lares, “onde em muitas situações é visível ou invisível a manifestação de sinais de violência doméstica”, lembrando que este ano já se contabilizam 18 vítimas mortais; nas escolas, “onde a falta de respeito entre colegas e entre pais e professores leva muitas vezes a situações de violência”; no local de trabalho, “onde, por ciúmes ou inveja, a relação entre colegas, amigos e empregadores é deplorável”; na promoção do “respeito pela dignidade da vida humana, desde a concepção até à morte natural, para que cada pessoa possa amar a sua vida e olhar para o futuro com esperança, desejando o desenvolvimento e felicidade para si e para os seus filhos”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquele dirigente pediu ainda que sejam “instrumentos de paz” junto dos migrantes, para que “a sua integração seja bem sucedida para o futuro e para o seu bem-estar, proporcionando um quadro para a sua integração”; junto dos sem-abrigo, “sendo urgente proporcionar-lhe meios não só para a sua sobrevivência, mas também para sua inserção social”; para com as vítimas do desemprego, referindo que “subitamente estão a surgir sinais preocupantes com as vagas de despedimentos, motivadas por deslocalizações de empresas sujeitas à competição desenfreada, engrossando o número de desempregados”; junto dos que vivem na pobreza, denunciando que “uma em cada cinco pessoas vive em risco de pobreza ou exclusão social”, que “um em cada 10 trabalhadores é pobre” e que “crianças e jovens são cada vez mais expostos a esta realidade, sendo que os “baixos salários, precariedade laboral, falta de acessibilidade a serviços de qualidade são apontados como causas estruturais para a pobreza”; e junto dos jovens que, “apesar dos crescentes níveis de qualificação”, “têm cada vez mais dificuldade em se tornarem independentes, fazendo com que deixem as casas dos seus pais cada vez mais tarde” motivados pelas “dificuldades como o acesso à habitação, baixos salários para as suas qualificações e vínculos de trabalho precário”.

Carlos de Oliveira disse ser preciso “estar atentos aos sinais dos tempos para construir a paz que implica um esforço ativo, duradouro e sustentável de pessoas, de famílias, de grupos, de organizações de comunidades, governos e sociedade”. “A construção da paz é um processo lento, paciente, que requer a coragem e o compromisso pratico de todas as pessoas de boa vontade que se preocupam com o presente e o futuro da humanidade e do planeta. A paz é duradoura, quando construída no dia a dia por meio do reconhecimento, do respeito e da promoção à dignidade humana e dos seus direitos fundamentais. A paz é a expressão do íntimo desejo de todos em cooperar para deixar um mundo melhor para as futuras gerações. A paz é dom de Deus”, concluiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Já o presidente da Câmara de Vila Real de Santo António considerou que a missão da Cáritas é dar conforto e aquecer “o coração e a alma”. “É o que esta luz também pode significar porque nos aquece. Quando acenderam a vela, a minha mão, que estava gelada, começou a ficar quente. É isso que a Cáritas faz a quem tanto precisa neste mundo”, afirmou Álvaro Araújo, elencando as medidas levadas a cabo pela autarquia para minimizar as dificuldades dos munícipes mais carenciados e para “dar conforto” aos idosos.

O autarca considerou que “a paz tem de ser mais do que uma palavra”. “Tem de ser ações e as ações concretizam-se neste tipo de atitudes, em fazer bem a quem está a nosso lado. Se formos assim, garantidamente vamos ser recompensados”, afirmou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Também o bispo do Algarve evidenciou que aquela “não é uma luz qualquer”. “Para quem tem fé, leva-nos Àquele que disse: «Eu sou a luz do mundo»”, referiu, lembrando que a chama é simbolicamente oriunda de Belém, na Terra Santa, onde ocorre uma guerra. D. Manuel Quintas referiu-se aos “cenários de destruição que criam alguma angústia, ansiedade, desnorte e alguma perplexidade também” por não se conseguir, “através de um diálogo sincero e sereno, encontrar caminhos de paz”. “Sentimo-nos todos derrotados. Como é possível continuar guerras que não têm explicação? Não há justificação”, considerou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Numa alusão ao poema de Sophia de Mello Breyner Andresen recitado, o bispo diocesano apelou a “uma paz sem vencedores e sem vencidos” e advertiu que “sem paz não há progresso, respeito mutuo, liberdade”. “Que esta luz desperte, cada vez mais, o nosso coração para sermos construtores da paz, tal como nos pediu Jesus”, apelou, desafiando todos a serem luz com “gestos silenciosos, às vezes, discretos”. “Que este Natal possa constituir para todos nós a decisão de sermos portadores desta luz, autores destes gestos que são verdadeiramente luzes que acendemos na nossa vida e à nossa volta. E com o mundo mais iluminado, certamente que encontraremos todos caminhos de paz, de progresso, de alegria e felicidade”, exortou, desafiando a “passar do presente à presença” porque “ser presença junto dos outros é o melhor presente”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A celebração terminou com um concerto do Grupo Coral Ossónoba que fez questão de homenagear o monsenhor cónego José Pedro, interpretando também uma peça da sua autoria, intitulada “É Natal, Cristo nasceu”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo