© Samuel Mendonça
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Marçal Grilo defendeu na última sexta-feira à noite no Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro, na sua palestra sobre a “A Escola no Século XXI” que, hoje, “os comportamentos e atitudes são tão relevantes quanto os conhecimentos adquiridos”.

“Os comportamentos e atitudes hoje competem com os conhecimentos de base”, disse o ex-ministro da Educação e atual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian na iniciativa promovida pela instituição educativa da Diocese do Algarve, aludindo à importância de atitudes como “iniciativa, responsabilidade, trabalho em grupo, dúvida permanente, gosto pelo conhecimento, espírito inovador, saber comunicar ou liderança” e de valores como o “respeito pelos outros, respeito pela verdade, humildade, tolerância, respeito pelo pluralismo ou solidariedade”.

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A cerca de 120 educadores presentes, o orador destacou também a importância da “cultura científica”, designadamente o “espírito de observação, de dúvida permanente, de experimentação, de registo dos resultados, de elaboração e apresentação dos relatórios”, lamentando que os portugueses tenham perdido esse fator muito presente no tempo dos Descobrimentos. “A cultura científica é algo em que a escola tem uma enorme responsabilidade”, sustentou.

Marçal Grilo referiu-se à importância do livro e da leitura, defendendo que “a primeiríssima prioridade para um professor é pôr os miúdos a ler”. “Não estou a tirar nenhum valor às novas tecnologias”, acrescentou, advertindo que “as novas tecnologias têm que ser usadas de forma muito adequada” e que, por isso, “não basta inundar as escolas de equipamentos muito sofisticados”. “É necessário que os professores sejam formados para utilizar estes equipamentos. Sem professores preparados os equipamentos sofisticados são completamente inúteis”, advertiu, lembrando que “quem verdadeiramente potencia as tecnologias são os professores” e que “nenhuma tecnologia deve ser utilizada sem estar integrada num projeto pedagógico”. “É o processo pedagógico que comanda o equipamento e não contrário”, complementou.

Neste sentido, aludiu à importância do projeto educativo, considerando que este resulta do “conhecimento aprofundado da comunidade que serve”. O orador disse que uma das condições do projeto educativo é levar a escola a “definir bem os objetivos e as metas que pretende alcançar”, o que é que se propõe fazer, de que meios (humanos e materiais) é que dispõe e que valores defende. “O Estado não tem que ter projetos educativos, nem projetos culturais. Quem tem que ter projetos são as escolas, as sociedades, as famílias”, defendeu, atribuindo “enorme importância à formação dos primeiros anos de escolaridade” no pré-escolar e “mesmo à idade antes dos três anos”.

Referindo-se à importância dos pais no processo educativo, evidenciou que são estes os responsáveis pela educação dos filhos e não os professores. Segundo Grilo, os pais “devem ser referência pelo seu comportamento, atitude, pela forma como incentivam” os filhos e devem apontar “caminhos” e “criar as condições de tranquilidade e esperança”. “A tranquilidade é o clima que se vive na casa. Os miúdos têm que chegar a casa e perceber que há disciplina, calma e que se cumprem determinadas tradições e ritos”, sustentou, aludindo a “fatores decisivos” como a “saúde, alimentação, amor, carinho”.

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“Precisamos de uma cultura de exigência”, apelou, defendendo que “os pais têm que ser exigentes com os filhos”, que “os pais e os alunos têm que ser exigentes com a escola”, que “os professores têm que ser exigentes com os alunos” e que “os professores têm que ser exigentes consigo próprios e os estudantes consigo próprios”. “Os portugueses são muito pouco exigentes com a escola”, lamentou, exortando a “criar, dentro da escola, a ideia de que ser exigente, compensa”.

Marçal Grilo lamentou que alguns professores tenham deixado de ser referências. “Os professores têm de ser referências pelos conhecimentos que têm, pelo modo como conduzem as aulas, pela maneira como se relacionam com os alunos e com os pais e pela sua conduta moral e cívica, a sua cultura e o seu profissionalismo”, defendeu.

Considerando que “a escola vai ter uma evolução muito rápida”, afirmou-se “grande defensor de uma escola com grande autonomia” com “o seu próprio projeto” e um “currículo flexível”, “desde que correspondam àquilo que são as grandes metas em termos nacionais”.

A terminar, frisou a necessidade de “fazer jovens que se tornem adultos responsáveis e solidários, cidadãos de parte inteira, capazes de definirem o seu próprio caminho e integrados como elementos de mudança num mundo cada vez mais complexo”.