A possibilidade de encerramento era admitida desde dezembro de 2009, altura em que a administração do complexo de lazer em que está inserido admitia a “situação insustentável” em que se encontrava.

“Estávamos sob esta ameaça desde o Natal e, como nada mudou até ao final de abril, a Fábrica do Inglês ficou sem condições para continuar com as portas abertas”, explicou Manuel Ramos.

Segundo o responsável, o encerramento do complexo e do museu tornou-se “inevitável”, uma vez que “já não havia dinheiro para pagar os seguros e os salários do pessoal, nem mesmo o fornecimento de água e luz, que entretanto foram cortados”.

A decisão de encerrar o espaço, acrescentou, foi tomada a 26 de abril, dia em que foi dispensado o único funcionário que ainda se encontrava ao serviço.

As dívidas acumuladas ascendem aos 6,5 milhões de euros, referentes na sua maioria ao pagamento de hipotecas vencidas em novembro de 2009.

Numa tentativa de manter em funcionamento aquele que era um dos principais equipamentos turísticos de Silves e de preservar o acervo do museu, chegou a ser proposto ao Município da cidade o estabelecimento de um protocolo para arrendamento do espaço por 11 mil euros mensais.

A proposta acabou por ser retirada, devido às posições radicais que desencadeou nas forças políticas locais, mas o vice-presidente da autarquia, Rogério Pinto, admite existir ainda interesse em adquirir o imóvel.

“Todas as possibilidades estão a ser estudadas, nomeadamente a possibilidade de intervirmos com o Ministério da Cultura, com os credores ou com grupos privados interessados na preservação daquele espaço ligado à industria da cortiça, mas a verdade é que não temos capacidade financeira para avançarmos sozinhos, é impensável”, disse o autarca à Lusa.

Para tentar salvar a maquinaria, as oficinas e “o maior acervo documental do mundo sobre a história da indústria da cortiça" de serem “desmembrados pelos credores” – como alertou o diretor do museu – a autarquia formalizou, no início de maio, uma proposta de classificação da antiga fábrica Avern, Sons & Barris como “imóvel de interesse concelhio”.

Manuel Ramos espera agora que, só pelo facto do processo estar em apreciação, o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) “desencadeie medidas preventivas de conservação do património”.

"São mais de 150 anos de maquinaria e documentação comercial, mal seria se um país deixasse destruir um património destes”, observou.

Na véspera de se celebrar em todo o mundo o Dia Internacional dos Museus, na terça-feira, Manuel Ramos vê esta como uma má notícia para a museologia portuguesa, até porque “a segurança do espólio não está garantida”.

O Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês foi inaugurado em 1999, graças a um investimento de cerca de 12,5 milhões de euros de empresários locais. Em 2001, foi distinguido pelo Fórum Museológico Europeu com o Prémio Micheletti para Melhor Museu Industrial da Europa, tendo recebido nesse ano mais de 100 mil visitantes.

Lusa