D. ANTÓNIO BARBOSA LEÃO
D. António Barbosa Leão, dando continuidade e consolidação à ação pastoral desenvolvida por D. António Mendes Belo, foi o bispo missionário do Algarve, intransigente na defesa da Igreja, mas sempre com capacidade de compreensão e de indulgência.
Folha do Domingo, passados cem anos, recorda este bispo intemerato que lutou pelos direitos dos homens e de Deus, pela liberdade, pela justiça, pela concórdia entre os algarvios, e que combateu o desemprego, a injustiça e a fome. Ao rol das acusações e discursos anticlericais, a Igreja no Algarve vai contrapor com realizações sociais e culturais e deixa de lado o discurso apologético, a verborreia estéril e caceteira dos anticlericais maçónicos e republicanos da última hora.
Naturalidade – S. Martinho da Parada, Paredes, 17.10.1860 – Porto, 21.06.1927
Filiação – Manuel Barbosa e Maria Barbosa Leão.
Presbítero – 1.08.1886.
Cargos – Professor no Colégio da Formiga do Dr. José Rodrigues Corguya, Ermesinde (1 ano); no Colégio do Carmo, Penafiel; no Seminário dos Carvalhos (1.10.1887 a 1890); Pároco de São Tiago de Lustosa, Lousado (12.06.1890 a 1904).
Bispo – Bispo de Angola e Congo (15.02.1906); Bispo do Algarve (7.11.1907), confirmado (19.12.1907), posse da Diocese do Algarve por procuração (19.03.1908) e entrada solene (3.04.1908). Bispo do Porto (Bula de Bento XV, 16.07.1919). Posse por procuração (28.08.1919).
Publicações – Publicou várias pastorais e circulares sobre a conjuntura política. União Católica e o Centro Católico Português (Atitude da Direcção Superior do Partido Monárquico e de parte da sua imprensa na eleição de 28 de Abril), em 13.06.1918; Exhortação (dirigida aos seus diocesanos sobre a sustentação do clero), (11.08.1911); Determinações e instruções sobre vários serviços ecclesiasticos (1915).
Condecorações – O Governo conferiu-lhe a Grão Cruz da Conceição pelos serviços prestado no Ultramar.
Publicações – Saudação Pastoral, 10.04.1908, Typografia E. Seraphim, Faro; Carta Pastoral, Quaresma de 1909, Typographia E. Seraphim, Faro; Carta Pastoral, Quaresma de 1911, Typographia Seraphim, Faro; Carta Pastoral, 1916, Typographia “União”, Faro;
Observações – Foi ourives até ao 20 anos. Em Luanda organizou o Seminário, cursos de intérpretes para a catequese, fundou escolas.
Chegou ao Algarve no dia 2 de Abril, no comboio das 22.30 horas. Desde Tunes acompanharam o Bispo o cabido e muitos párocos. Foi imponente a recepção na gare de Faro. A frente da estação estava iluminada, os sinos repicaram e três filarmónicas (Faro, Namarrais e do Regimento de Tavira) tocaram. Organizou-se um cortejo em “marche aux flambeaux” até à Sé Catedral. Entrou solenemente no dia seguinte. O cortejo partiu da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, às 13.00 horas, e dirigiu-se para a Sé Catedral. Incorporaram-se as confrarias, irmandades, as crianças das escolas e as autoridades locais. As janelas estavam engalanadas e houve feriado nas escolas e na função pública. No fim da entrada solene, o Cabido ofereceu um bodo a 500 pobres no recinto do Seminário.
No ano seguinte, foi a Roma em visita ad sacra limina, e regressou a Faro no dia 9 de junho de 1909. O cortejo saiu da Igreja da Misericórdia para a Sé Catedral e incorporaram-se, como era «estylo do Reino», os clérigos, os cónegos e a vereação da cidade.
Primeira visitação na nova diocese (Sé e São Pedro (5.07.1908). A segunda foi a Tavira (15.07.1908). Instalada a República, proíbe a formação das Cultuais na Diocese, por intermédio de uma circular (24.12.1911). Afonso Costa condena-o ao desterro para fora da Diocese (Decreto de 6.01.1912). Protesta num documento de 16 páginas e vai para a sua terra natal. O Centro Republicano Democrático de Faro, de Afonso Costa, presidido pelo dr. João Pedro de Sousa, em assembleia geral, resolveu enviar um telegrama de felicitações ao Ministro da Justiça «pela firmeza e altivez com que defende a lei da Republica e muito especialmente pelo decreto que expulsou do districto o bispo do Algarve. Com unguibus et rostro os republicanos algarvios atiram-se ao Bispo do Algarve e até sugerem que as igrejas sejam adaptadas a escolas.
Antes de partir voluntariamente para o desterro, D. António analisou a situação económica da Diocese. O Cónego Dr. José de Barros Bentes foi nomeado Governador da Diocese e o P.e Marcelino Franco foi nomeado administrador dos bens da Diocese. Os recursos com que se provia a sustentação da Casa Episcopal, Seminário, Catedral e o clero desapareceram a favor do Estado. D. António viu-se obrigado a promover, ainda antes do seu exílio, uma subscrição dentro e fora do país. (Recebeu algumas valiosas ofertas de algumas pessoas para as necessidades mais urgentes).
A tipografia da Diocese foi “vendida” aos padres Marcelino Franco e Manuel Cruz Semedo por 425.000 rs para não ser tomada pelo Estado.
Na sua terra natal, São Martinho de Parada, freguesia de Cête, concelho de Paredes, na capela da residência e na paróquia conferiu Ordens Menores aos seminaristas do Algarve.