D. ANTÓNIO BARBOSA LEÃO
D. António Barbosa Leão, dando continuidade e consolidação à ação pastoral desenvolvida por D. António Mendes Belo, foi o bispo missionário do Algarve, intransigente na defesa da Igreja, mas sempre com capacidade de compreensão e de indulgência.
Folha do Domingo, passados cem anos, recorda este bispo intemerato que lutou pelos direitos dos homens e de Deus, pela liberdade, pela justiça, pela concórdia entre os algarvios, e que combateu o desemprego, a injustiça e a fome . Ao rol das acusações e discursos anticlericais, a Igreja no Algarve vai contrapor com realizações sociais e culturais e deixa de lado o discurso apologético, a verborreia estéril e caceteira dos anticlericais maçónicos e republicanos da última hora.
D. António Barbosa leão regressa ao Algarve (1914) e é recebido apoteoticamente e lança-se à obra da reconstrução da Diocese. Organizou e dirigiu a Comissão Nacional de Assistência Religiosa em Campanha (1914) e pediu ao Presidente da República uma amnistia para os presos e exilados políticos. Foi um dos bispos organizadores do Centro Católico. Co-fundador do Asilo de Órfãos do Algarve (1919). Para atenuar os efeitos da epidemia que assolou o Algarve e o pelo país, D. António Mendes Belo organizou um grupo de senhoras para socorrer visitar, socorrer e tratar dos enfermos mais pobres. Mas a presidente da comissão, D. Isabel Cúmano de Bivar, verificou que ficaram muitas crianças «sem amparo e sem protecção, por lhes terem morrido os pais e outras pessoas de família». Surgiu então a ideia de se recolher algumas daquelas crianças numa casa onde pudessem ter alimento, agasalho e ensino. E assim aconteceu. Como não tinha instalações, D. António pediu à Ordem Terceira de São Francisco umas dependências da Igreja de São Francisco (26.11.1918). Os irmãos (sessão de 28.11.1918) colocaram à disposição a antiga secretaria e casa contígua, a parte superior do claustro e ainda o antigo cemitério. Porém, era necessário realizar obras de conservação e de adaptação. Foram pedidas diversas ajudas, entre as quais ao Presidente da República, Sidónio Pais, que deu um subsídio de 800$00. Realizadas as obras, abriu o asilo para as crianças abandonadas nestas instalações provisórias. Como apareceram benfeitores que se prontificaram em oferecer o terreno e dinheiro para uma nova construção, pensou-se construir um novo edifício para as crianças abandonadas de Faro e do Algarve. O custo do novo asilo custaria entre 8 a 10 mil escudos.
A publicação referente ao Centro Católico foi determinante para que o Papa Bento XV escrevesse aos bispos portugueses (18.12.1919) uma célebre carta sobre a plena liberdade da Igreja e o exercício dos seus sagrados direitos. Enaltece o Centro Católico Português e aponta cinco normas de voto. Até 1918 «pouco ou nada» se tinha feito. Em março, o bispo conseguiu reunir algumas forças vivas e fundou vários centros e até um centro (provisório) distrital. No Congresso Diocesano, de 10 de Fevereiro de 1921, em Faro, Dr. Sousa Martins, advogado em Olhão, falou sobre o desenvolvimento do Centro Católico; O cónego José de Sousa Guerreiro, de Albufeira, «O Centro Católico e as obras sociais»; O P.e Santos Silva, de Loulé, «O Centro Católico e a imprensa»; O P.e Baptista, de Paderne, «O Centro Católico e a piedade». Só na terceira Legislatura, em 28 de Abril de 1918, o Centro algarvio conseguiu um senador, o dr. Domingos Pinto Coelho.
Fundou a “Banda do Recreatório de João de Deus” (8.12.1909). Tinha 27 elementos com indumentária vistosa. O regente e ensaiador era o Beneficiado Mascarenhas e o contra-mestre Manuel Custódio Passos. Tinha alguns músicos adultos no 1.º clarinete, 1.º trombone e 1.º cornetim (Boletim do Algarve, 15.01.1910; 1.02.1910; 1.01.1911). Reorganizou o Seminário, as obras católicas, a catequese, criou o Recreatório João de Deus.
D. António Barbosa Leão, em 1914, crismou 4.000 pessoas em São Brás de Alportel, mas nem todos os crismandos eram são-brasenses. O jornal O Sul fez o seguinte comentário: «não deixamos de reconhecer a fôrça que a Igreja representa e com a qual nunca podemos deixar de contar» (O Sul, n.º 132, de 25.10.1914). (AHDA 348, fol. 125v)
Consolidou e desenvolveu a acção de D. António Mendes Belo. Bispo intransigente na defesa da Igreja e dos costumes reuniu o clero, por vigararias, em acções de formação, para que a Diocese tivesse um clero zeloso, digno, ilustrado, culto e disciplinado. Tornou obrigatória a homilia ao domingo e o ensino da catequese e cada pároco tinha de fazer um relatório acerca das actividades paroquiais. Difundiu a catequese pelos sítios e apoiou os párocos na criação de escolas nocturnas, já iniciadas pelo seu antecessor. Fomentou a entreajuda no seio do clero para responder às necessidades de cada paróquia. Informou o clero da situação política reinante e de todas as acções que tomou para resolver os imensos problemas que surgiram com a República. Implantou na Diocese a Congregação da Doutrina Cristã e, em 1910, deu um prazo de seis meses para os párocos organizarem o conselho paroquial da catequese. Foi o primeiro bispo que preparou catequistas para a acção evangelizadora e que introduziu o audiovisual na catequese, criou movimentos e obras para difundir a Palavra de Deus e a imprensa católica.
Fundou a Obra de São Francisco de Sales cuja finalidade era «auxiliar o clero, especialmente o paroquial, na conservação e defesa da fé, e reanimar a vida cristã» (Carta Pastoral, Quaresma, 1910) Editou o Boletim do Algarve, ligado à obra de São Francisco de Sales, e ficou sendo o órgão oficial da Diocese. Também fundou e difundiu obras de piedade, caridade e acção social. Apoiou várias devoções para atingir o coração dos algarvios. Deu relevo às associações do Sagrado Coração de Jesus, Filhas de Maria, N.ª S.ª de Lurdes, N.ª S.ª de Fátima, aos movimentos da Juventude Católica, Conferências de São Vicente de Paulo, Senhoras da Caridade, São Francisco de Sales e Pão de Santo António, Liga de Acção Social e Cruzada do Rosário. Introduziu e renovou devoções populares, o mês de Maria, do Rosário e das Almas. Deu relevo à festa da eucaristia, sobretudo à primeira comunhão e profissão de fé, à primeira sexta-feira de cada mês, às exposições do Santíssimo Sacramento, às procissões dos oragos das freguesias e ao tríduo de preparação. Muitas vezes esta preparação era feita pelo próprio Bispo. Não descurou a devoção do terço (dos benditos) que se difundiu pelas paróquias. Aproveitou as novenas do Espírito Santo, Senhora da Glória, Menino Jesus para difundir a Palavra de Deus. Ia às paróquias organizar os vários movimentos e crismava multidões.