A Tipografia União habitou a cidade desde a rua do Compromisso, Tenente Valadim (rua dos cavalos), até chegar à do Município. A Tipografia foi a “Mãe”do semanário “Folha do Domingo” que se publicou a 19/06/1914, indo em continuidade, a caminho do século.
Mas o jornal da Diocese do Algarve, no seu longo percurso feito de 98 anos, é um esforço de continuidade… A Folha do Domingo, durante esta sua longevidade, abriu a porta, para além da sua matriz, a um escol de figuras brilhantes da cultura da cidade, nas suas variantes. Já recebia, em Messines, na minha mocidade, a Folha do Domingo, que assim chegava. Registei nomes de pessoas que me informavam ser ilustres cidadãos. Conheci-os, depois na minha chegada a Faro, passando a admirá-los como Senhores de muito respeito: o Cónego José Cabrita, o prof. Pinheiro e Rosa, os drs. Emiliano da Costa, Júlio de Almeida Carrapato, Joaquim Magalhães, Elviro Rocha Gomes, Alberto Marques da Silva, o Padre José Gomes.
Mas foi o Professor Clementino de Brito Pinto, que me “convida” a esta recordação. Conheci-o como professor, Homem admirável; mestre reconhecido; pronto a um “bate-papo”, aberto, nada circunstancial. Foi-me convidando para colaborador; e, eu, sem tempo, respondia-lhe: “Não tarda, irei”. Como director da Folha do Domingo, ia dando informações na minha área de publicista e de professor, lá “fora”. Havia uma certa afinidade nos nossos gostos de leituras e de opiniões. Eu fui sempre, sempre leitor dos “Pardais”. Ele Homem atento à vida da cidade e dos cidadãos, numa abertura ao Clube de futebol da cidade, não se alheando aos acontecimentos da política nacional. Lembro-o, no dia 1.º de Maio de 1974, pronto a desfilar, como os de mais, ao renascer da democracia, indo de cravo ao peito. Assim foi, o Cónego Clementino, um homem da cultura, também social/cristã. De escrever na imprensa, de produzir lições que não classificava de conferências; de beber um copo com a “malta”, os seus antigos alunos do liceu ou doutro estabelecimento de ensino. E todos respeitavam aquele Mestre que raramente sorria, e, quando o fazia, numa alegria extrema, era de orelha a orelha.
No início de 1992, inesperadamente, vou visitar o Amigo, já director da Folha do Domingo, entregando-lhe a primeira colaboração. Esqueceu-se em dar autoria do artigo, rectificando a falta na semana seguinte. Muito rigoroso e exigente foi o doutor Clementino, tanto para com os alunos, como em tudo na sua vida.
Quando, por razões de saúde, se retirou, esclareceu aos seus superiores a sua vontade em ficar no seu quarto, no Seminário, que sempre foi a sua casa, recusando o Retiro de Ferragudo. Ia visitando o meu “Amigo Clementino”, como exigiu em tratamento. Vivia entre o convívio dos seus livros e em visitas constantes à Muralha, a ver a Ria, confirmando-me, que, para ele, Faro, a Ria, eram o resto do seu viver. E assim morreu nesse “prazer” e na simplicidade de um eremita.
Passado alguns dias, após a sua morte, recebo em minha casa uma carta comunicando-me que em seu testamento me havia deixando algo. Fui saber da herança: um livro O ALGARVE NA POESIA DE EMILIANO DA COSTA. Vim descendo a rua do Município com o tesouro que o meu Amigo me deixara, numa mensagem de amizade. Senti os olhos num lago.
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico