Nesta época natalícia em que celebramos o nascimento de Jesus Cristo, vale a pena reflectir sobre o efeito da globalização no modo como os portugueses vivem o Natal.

Portugal, tal como muitos outros países europeus, atravessa hoje uma crise económica provocada pela ganância especulativa dos "mercados financeiros", a incompetência dos políticos e a irresponsabilidade consumista de uma sociedade em que cada vez mais "ter é ser".

Na lógica de consumo que orienta a sociedade ocidental, o Natal transformou-se numa grande oportunidade de negócio, motivando dispendiosas campanhas de publicidade e marketing, elaboradas com o objectivo único de vender um sem fim de produtos, na maioria das vezes absolutamente inúteis e que mais não são do que alimento para o ego e a futilidade dos consumidores.

Basta ligar a televisão para que sejamos bombardeados com sofisticados anúncios, concebidos para despertar no espírito do espectador a necessidade de possuir o mais recente modelo automóvel, a nova gama de telemóveis, um novo perfume publicitado por uma qualquer estrela de cinema e um sem fim de produtos vendidos a preços inflacionados.

Vale tudo neste jogo comercial em que as crianças e os adolescentes são os alvos principais das grandes marcas. Lojas decoradas com enfeites natalícios em meados de Novembro, oferta de créditos para as compras de natal e um nunca mais acabar de publicidade nas caixas de correio, apelando às compras nas grandes superfícies comerciais.

Mas em tempos de crise e num momento em que tantos portugueses passam por graves dificuldades económicas, que lhes impedem até o acesso aos bens de primeira necessidade, importa que saibamos recuperar o verdadeiro espírito de Natal, fazendo desta quadra uma oportunidade para ajudar o próximo.

Não deixemos que o Natal do comércio e dos não crentes (simbolizado pelo Pai Natal da famosa marca de refrigerantes) relegue para segundo plano o verdadeiro Natal. Façamos desta quadra uma festa da família e dos valores cristãos, em que a verdadeira celebração seja a do nascimento de Cristo redentor.

Deixemos de lado esse Natal dos centros comerciais e das marcas de luxo e regressemos às tradições seculares, ao presépio, à gastronomia portuguesa e ao convívio familiar. Recuperemos enfim, o espírito do verdadeiro Natal, aquele que sobrevive à crise, porque é feito de valores intemporais e não de coisas efémeras.