Setembro é o mês tradicional do regresso às aulas, e nesta altura já praticamente toda a gente se habituou às novas rotinas escolares, com todos os cuidados que as mesmas inspiram. Será um processo de adaptação, para que todos possam estar confortáveis e seguros.

Quando se fala da escola/ensino em geral, o foco está por norma nos alunos, e bem, mas descuram-se um tanto ou quanto os professores. Não tenho como intenção fazer uma ode aos mesmos, mas quero recordar o seu papel, o que está na sua essência, e que é transversal do primeiro ciclo até ao ensino superior.

Um professor é em primeiro lugar um educador. Isto é muito claro quando cada vez mais ouvimos afirmações de que os pais deixam à conta da escola grande parte da educação dos filhos. É verdade, e a culpa nem sempre é deles, mas de um Estado, que não é capaz de lhes oferecer condições favoráveis para o acompanhamento dos percursos escolares dos seus filhos. A rotina é tão voraz que muitas são as famílias que se encontram ao pequeno almoço, e, com sorte, ao jantar. Tudo isto faz do professor um verdadeiro educador que comunica ideias aos seus educandos (alunos). Este é o sentir de Rubem Alves, grande pedagogo brasileiro que pessoalmente admiro, e que qualquer professor deve escutar e ler, pois há uma sabedoria intrínseca em tudo o que diz. O pedagogo, psicanalista e autor, defende que a regra mais importante da educação talvez seja gastar tempo, ao invés de ganhá-lo. É sem dúvida algo central nesta missão.

Os professores andam numa agitação quotidiana porque inúmeras são as solicitações. São as reuniões, as actividades a preparar para as aulas, a família, os amigos, e outros afazeres. Tudo isto os leva a crer que estão a perder tempo, quando o que mais desejam é ganhá-lo. Todavia, na educação, só perdendo tempo serão capazes de ver os ganhos. Esses, não se traduzirão em mais tempo, mas terão como fruto maiores alegrias por verem os alunos a caminharem por si, escolhendo livre e autonomamente, porque os foram munindo das ferramentas necessárias. O professor deve propôr caminhos, ficando a escolha sempre a cargo do aluno. Isto não elimina a sua presença discreta, na retaguarda, porque se alguma coisa fracassar na empreitada do educando, o educador é o primeiro a apoiar, auxiliando nos ajustes para que o caminho continue a ser trilhado. É do aluno o papel principal. Assim, educar não é formatar! É apresentar um conjunto de possibilidades para que os alunos tenham bases necessárias para os impactos da vida, que serão inevitáveis e assaz necessários. Fazem parte da vida, e todos o sabemos, porque são as dores do crescimento.

Como comunicador, o professor deve ter a consciência de que uma conversa personalizada e despreocupada pode ser mais importante do que “meia dúzia” de coisas ditas em sala de aula com o maior profissionalismo. Reconhecer como o pedagogo brasileiro, que a educação depende de duas coisas frágeis, que são os sentimentos e a inteligência dos professores, pode ser um tanto ou quanto assustador pela enorme responsabilidade, mas é sumamente belo, quando se vê a missão a ser cumprida.

Qualquer pedagogia, por melhor que seja só resultará se a relação professor-aluno for de excelência. Não é de melhores amigos! Isso é um absurdo e pode inviabilizar todo o processo de aprendizagem. Esta tem de ser uma relação de excelência que começa na importância de uma voz mansa. É aqui que se começa a respeitar o aluno, porque como também defende Rubem Alves, o educador é aquele que ama as crianças, mas isso não basta, porque ele tem de ter vontade de ensinar-lhes o mundo. Tal só será possível se o professor for capaz de os respeitar e compreender nas suas particularidades, olhando-os nos olhos de igual para igual, fazendo com que se sintam importantes, e mostrando-lhes que tudo aquilo que lhes dizem é algo pela qual têm muita consideração. Quando assim é, os alunos sentem-me muito maiores.

Finalmente, o modo de olhar. Aliado ao tom de voz, um olhar pode destruir um aluno, mas pode também reabilitá-lo. Com um olhar manso, toda a aprendizagem será facilitada, porque ninguém aprende com medo.

Parte do nosso rosto tornou-se agora privado, mas os nossos olhos continuam públicos. Que através deles possamos semear o desejo e encorajamento ao invés do medo.

Que este seja um ano lectivo profícuo em esperança!

“É o desejo que acorda o pensamento” (Rubem Alves).

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia