– pensando no Jorge…
Estou na Figueira da Foz, em trabalho, num sítio onde tenho uma vista belíssima para o mar e vejo as ondas fortes, que rebentam em espuma grossa. A minha filha mais velha faz hoje 27 anos e os meus filhos serão sempre para mim, como julgo que para todas as mães, a maior fonte de bênçãos qie fazem o coração insuflar de gratidão, como digo muitas vezes.
Este será um dia “útil”, de trabalho para ela e para todos e tantos, integrando nessa normalidade as alegrias que vivemos e sentimos, como se injetássemos na normalidade, aquilo que queremos sentir. E hoje quero sentir esta gratidão imensurável pelo dom da vida dela, especificamente e o meu pensamento migra também, em sinapses simultâneas, para um colega de trabalho, cujas exéquias serão hoje, em Faro.
Com o meu coração de mãe insuflado de alegria e de gratidão, lembro também um colega simpático e extrovertido, de quem hoje, tantos se vão despedir. Não poderei lá estar. Estou a muitos quilómetros de distância. Não o conhecia muito bem, tínhamos pouco contacto, mas guardo com ternura a última conversa que tivemos, na manhã do dia da sua morte. O tom de desabafo e de alguma confidência que fez, confiando em mim e tornando-me digna de o ouvir. Agradeço-lhe por isso, por essa confiança. Será sempre uma benção infundirmos nos outros essa sensação e só queria continuar a sentir-me à altura desses momentos. Pouco lhe disse de especial. Ouvi mais do que falei, mas sim, guardarei sempre com ternura fraterna esse momento e mando hoje, daqui, com a vista deste mar, talvez embalado numa destas ondas de espuma branca de que falava no início do texto, um abraço forte para a família.
E sim, o meu coração grato e feliz do início do texto, faz a minha boca sorrir também em silêncio, lembrando o Jorge, certa de que já descansa no amor do Pai.