
O encontro ligado à espiritualidade da Comunidade de Taizé, previsto realizar-se neste fim-de-semana na diocese algarvia, acabou por ser convertido numa oração que teve lugar ontem à noite na igreja de Aljezur com a presença do bispo do Algarve e do irmão David, oriundo daquela comunidade ecuménica do sul da França.
A impossibilidade de realização de mais uma edição do encontro diocesano ligado a Taizé deveu-se às poucas inscrições para a iniciativa. “Não houve inscrições para os três dias”, explicou ao Folha do Domingo o organizador do encontro, acrescentando que a data, escolhida em função da vinda do irmão David a Portugal, não era oportuna para muitos interessados. “Quando voltarmos a fazer será depois da Páscoa”, anunciou João Cabral.
Ainda assim, a oração de ontem à noite, precedida de um jantar no Espaço Multiusos de Aljezur, foi participada por cerca de 190 pessoas de vários pontos do Algarve.
O bispo do Algarve considerou que a iniciativa “transportou” os participantes para Taizé, lembrando a sua peregrinação em 2007 àquela comunidade monástica. “Senti-me verdadeiramente envolvido pela grande comunidade que ali se reúne, vinda de tantas partes do mundo, falando tantas línguas, mas unidos na mesma oração, no canto, na letra de diversas línguas. De facto, mesmo sendo diferentes, falando línguas diferentes, sendo provenientes de culturas, países e continentes diferentes, sentimo-nos um só”, recordou D. Manuel Quintas.
“E verificamos também esta noite como é bom estarmos juntos a rezar. É bom quando rezamos uns com os outros, mas também é bom – e talvez melhor – quando rezamos uns com os outros, servindo-nos das mesmas palavras, da mesma oração, da mesma música, do mesmo canto, criando o mesmo ambiente. Isso ajuda-nos a elevar o nosso espírito para Deus”, prosseguiu, considerando que “a oração constitui um alicerce para a fé” “porque deita raízes no coração do próprio Deus”.
O irmão David, o único monge português da comunidade ecuménica, explicou brevemente a sua história, lembrando que foi fundada para ser uma “parábola de comunhão”, “um sinal concreto de que, por causa de Cristo e do evangelho”, os seus membros podem “viver como irmãos”. “Aqueles que visitam a comunidade podem fazer essa experiência de comunidade”, acrescentou, sublinhando que a “oração” e o “espírito de comunidade” são as duas principais dimensões que marcam quem visita Taizé.
O irmão David exortou assim a “acolher Deus e os irmãos” no dia a dia. “Podemo-nos apoiar mutuamente na oração. É isso que estamos a fazer aqui. Juntámo-nos para rezar uns pelos outros, para ser Igreja”, constatou, apelando à oração pelo papa Francisco.
O pároco de Aljezur desafiou os participantes a encontrarem-se com Cristo na cruz. “Sempre que nos encontramos com Cristo, encontramos Aquele que dá a vida por nós. É nesta dinâmica de dar a vida que é necessário caminharmos, fortalecermo-nos uns aos outros e, sobretudo, olharmos para o nosso lado, na missão a que somos chamados. Somos chamados a ser missionários, a dar a vida, a nos unirmos. Por isso, esta oração hoje também tem para mim este significado. Que esta oração vos fortaleça e vos ajude a encontrarem-se com Ele, uns com os outros e convosco mesmos”, desejou o padre Nuno Coelho.
A oração superou o pedido do irmão David, tendo os participantes rezado não apenas pelo papa Francisco, mas também pelo bispo do Algarve, pelos sacerdotes e pastores, pelas comunidades cristãs, por “todos aqueles que passam necessidades”, pelos governantes, pelos doentes, pelas “crianças abandonadas”, pelas famílias, pelos países em guerra, pelos imigrantes, pelo dom do sacerdócio, “em especial do padre Nuno” e pela Comunidade de Taizé.
A Comunidade Ecuménica de Taizé foi fundada em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, pelo falecido irmão Roger Schutz com o propósito de “reunir homens que sentissem a necessidade de juntos fazerem comunhão e viverem em paz uma vida simples, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado aos homens por Jesus Cristo”. Hoje é constituída por mais de 100 irmãos, de várias nacionalidades e igrejas cristãs, incluindo a católica, recebendo semanalmente a visita de milhares de jovens.
A ligação do Algarve à Comunidade Ecuménica de Taizé remonta à realização do Concílio de Jovens que ali teve lugar na década de 70 do século passado. As peregrinações do Algarve à comunidade monástica tiveram início desde então e todos os anos há grupos a passar alguns dias em Taizé.