Padre Miguel Neto

Sempre achei que o povo português é demasiado pessimista e fatalista. Não sei se isso é resultado ou consequência do mito sebastianista ou se é próprio da cultura de um povo que outrora dominou a Europa e mundo e que, depois de séculos de má gestão politica e pública, é apenas um pequeno país periférico do sul deste continente. Sei que não gosto e sinto enorme revolta interior por existir este pessimismo e fatalismo embrenhado na nossa cultura.

Não percebo nada de proteção civil. Não percebo nada de floresta, plantações, agricultura. Isto, apesar de ter crescido no meio agrícola e piscatório. Não percebo nada de incêndios. Nem de bombeiros, nem da forma destes atuarem. Não dou, nem pretendo dar palpites.

Mas sei de uma coisa: não é possível nesta altura do ano olharmos para os incêndios com o fatalismo e o pessimismo de quem não consegue evitar o inevitável. Não podemos ver os fogos florestais da mesma forma que observamos os problemas diários do trânsito à entrada da ponte 25 de Abril, na VCI no Porto, ou no mês de agosto no Algarve. Não podemos encarar os incêndios com a mesma inevitabilidade com que encaramos as imensas filas no nosso supermercado habitual nos meses de Verão. E também não creio que os possamos noticiar 24 horas sobre 24 horas, mostrando detalhes e mais detalhes, que despertam muito mais a curiosidade de quem os habitualmente perpetra, do que de quem os quer evitar, banalizando-os …

Sinto que é isso que se está a passar com estes incêndios em Mação e com todos os outros que vão diariamente marcando o mapa do nosso território. Perante a habitual guerra do empurrar culpas e responsabilidades entre autarcas e governo central, o atual ministro da Administração Interna proferiu a seguinte frase, na passada terça-feira, numa entrevista à RTP: «Sem alterações profundas na floresta vai ser inevitável a existência de novos fogos problemáticos. Quem entenda que nós não vamos ter incêndios de grande dimensão neste ano ou nos próximos anos, está a fazer pura demagogia.

Como assim? Estão se já se sabe que vai haver grandes incêndios, porque é que não trabalhamos para alterar isto? Porque é que não fazemos, de imediato, as alterações profundas que a floresta portuguesa precisa, em vez de olhamos para este fenómeno com a mesma inevitabilidade com que todos nós esperamos a morte? É que neste caso, ao menos, nós fazemos tudo para a evitar e retardar o máximo possível. Já com os incêndios parece que olhamos e esperamos que aconteça como o nascer e o pôr-do-sol diário. E só acreditamos, mesmo, na Misericórdia de Nosso Senhor, para que eles não aconteçam…

Volto a dizer: não percebo nada de floresta, mas é do senso comum que é melhor e mais fácil cuidar dela para que haja oxigénio para respirarmos, do que preocuparmo-nos com a pegada ecológica deixada pelas vacas ou pelos carros a motor de combustão. E também já sei que há quem não concorde com o que estou a dizer, mas peço que entendam que, no primeiro caso está em causa a produção de oxigénio e, no segundo, está só a possibilidade de evitar que ele se gaste. Por isso, incêndio! Outra vez, não! Por favor!