Foto © Samuel Mendonça
Foto © Samuel Mendonça

O padre Mário de Sousa lembra que a “eutanásia não é deixar morrer, respeitando o curso natural da vida”. “Trata-se de provocar a morte de alguém”, evidencia o sacerdote, explicando que “não se trata de uma questão apenas religiosa” porque também “é uma questão humana e ética”.

“A ética estabelece uma diferença fundamental entre matar e deixar morrer, no respeito pelo curso normal da vida humana, e entre matar e acompanhar o morrer, que se carateriza nos cuidados paliativos que tornem o sofrimento mais suportável, diminuindo ou eliminando a dor, proporcionando todo o acompanhamento humano possível e criando as necessárias condições a um cuidado global da pessoa em causa”, afirmou o pároco da matriz de Portimão na introdução à conferência do médico Luís Paulino Pereira que teve lugar no passado dia 1 deste mês no Centro Paroquial de Portimão.

Comparando com o que acontecia antigamente, em que “a morte era enquadrada pela fé na vida eterna e era vivida em família, como momento doloroso, mas também como momento recheado de esperança”, o sacerdote destacou que “hoje o morrer tornou-se mais longo e mais solitário, normalmente em hospitais ou centros clínicos, fora do ambiente da família”.

“Por outro lado, os avanços das ciências médicas fizeram com que o ser humano se desabituasse do sofrimento e com isso, naturalmente, da capacidade de arranjar mecanismos com que lhe responder. Por isso, ouvimos tantas vezes dizer: «não tenho medo de morrer, tenho é medo de sofrer». Mesmo que a primeira parte da afirmação não seja completamente verdadeira (temos sempre medo da morte), a segunda revela o grande drama do homem de hoje: o sofrimento, não apenas físico, mas afetivo e humano. São os dois grandes medos do homem, a morte e o sofrimento. Próprios ou de outrem”, evidenciou.

Neste sentido, o sacerdote lamentou que o medo da morte possa levar à distanásia, ou seja, “a recorrer a todos os meios para manter viva uma pessoa em estado terminal” e o medo do sofrimento à eutanásia, isto é, a “tentar a levar legitimar ações e omissões, por sua natureza e nas intenções, que provoquem a morte”.