
A paróquia de Santa Bárbara de Nexe, no concelho de Faro, tem a funcionar há dois anos uma Cantina Social que fornece diariamente 50 refeições (25 almoços e 25 jantares) a 25 pessoas carenciadas.
Aquela valência social do Centro Paroquial de Santa Bárbara de Nexe é uma das cerca de 850 cantinas que fazem parte da Rede Solidária das Cantinas Sociais em Portugal, medida criada ao abrigo do Programa de Emergência Social lançado em 2011 pelo Governo.
Segundo explicou a diretora técnica da instituição ao Folha do Domingo, as refeições são fornecidas a pessoas de agregados familiares, prioritariamente da área da freguesia, cujo rendimento mensal per capita, devidamente comprovado, seja inferior a 184 euros. “A Segurança Social autoriza-nos a cobrar até um euro por refeição naqueles agregados que, feito o cálculo, o valor per capita o permita. Das 50 refeições que fornecemos diariamente, só três ou quatro é que pagam 50 cêntimos”, refere, acrescentado que o apoio da Segurança Social é de 2,50 euros por refeição. “O restante é suportado por nós e o custo médio por refeição é de cerca de 4,20 euros”, sustenta, assegurando que a maioria dos alimentos são comprados porque a instituição recebe “muito poucas doações”.
As refeições são confecionadas na cozinha do próprio Centro Paroquial, juntamente com as dos utentes da instituição, sendo depois embaladas em marmitas para levantamento entre as 11.30h e as 13h e as 18.30h e as 19.30h, o que, ainda assim, constitui uma dificuldade para alguns beneficiários. “Há pessoas que não têm transporte, vivem longe e não têm como vir”, conta a diretora técnica, explicando que, por vezes, a solução passa pela articulação com o Serviço de Apoio Domiciliário, outra das valências daquele Centro Paroquial. “Quando alguns casos ficam dentro da rota do Serviço de Apoio Domiciliário, incluímos nela essas entregas”, testemunha Tânia Viegas.

Aquela responsável adianta ainda que outra dificuldade, – que impede mesmo que a Cantina Social não esteja a fornecer a totalidade das refeições para que está capacitada, – prende-se com a pobreza envergonhada que garante existir. “Algumas pessoas têm vergonha e não querem passar por essa «humilhação» porque ainda encaram dessa forma”, lamenta, acrescentando haver utentes que, quando aceitam usufruir do apoio, chegam a confessar não terem acedido antes por essa razão. “Peço a quem sabe para me sinalizar essas situações. Já me têm sinalizado e já tenho ido ao encontro das pessoas para falarmos fora daqui [Centro Paroquial]. E já tenho tido sucesso nalguns casos”, conta, acrescentando que a Cantina Social, tem capacidade e está autorizada pela Segurança Social para fornecer cem refeições, o dobro das atuais.
Não obstante esta dificuldade, aquela técnica assegura que, ao longo dos dois anos de existência, o número de apoiados tem aumentado, ainda que o serviço seja muito marcado por um ciclo sazonal. “Durante o inverno, aumenta e depois, no verão, por esta altura, diminui”, afirma, explicando que o fenómeno está relacionado com a realidade de trabalho sazonal muito presente no Algarve. “Por esta altura, as pessoas arranjam trabalho e deixam de vir buscar, mas em outubro retomam”, conta.
A diretora técnica reconhece também haver casos de “pessoas que se habituam a este tipo de vida e já não querem mudar”. “Há pessoas que se acomodam a este estilo de vida e deixam de querer fazer e desmotivam-se. É um ciclo, muito difícil quebrar, em que a pessoa entra e é preciso alguma força para ultrapassar”, considera.
O Centro Paroquial está a pensar criar um novo serviço de fornecimento de refeições, também em regime de take away, que ajude a financiar o apoio social que a instituição promove. “Muitas pessoas perguntam se a Cantina Social é só para desfavorecidos. Apercebo-me das dificuldades que os pais têm para vir buscar os filhos no horário normal porque, cada vez, vêm buscar as crianças mais tarde. O horário de encerramento é às 19h e, muitas vezes, ainda temos 10/15 crianças a essa hora”, conta Tânia Viegas, considerando que isto acontece “porque os horários de trabalho são, cada vez mais, esticados”. “Comecei a aperceber-me da dificuldade que os pais têm para dar alguma assistência aos filhos e lembrei-me da possibilidade de criarmos um serviço de fornecimento de refeições em que as pessoas pagassem um valor solidário que não seja muito mais do que o custo real da refeição”, acrescenta, explicando que as receitas reverteriam a favor do Centro Paroquial “para que a instituição possa continuar a promover o apoio social”.
Precisamente com este objetivo, o Centro Paroquial tem já a funcionar desde o tempo do anterior pároco, o falecido padre Júlio Tropa Mendes, um serviço de catering para eventos em todo o Algarve, que inclui também festas de aniversário e outras iniciativas realizadas nas instalações da própria instituição.