Foto © Samuel Mendonça

A Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) desafiou as dioceses do sul do país a acolher uma família de refugiados em cada paróquia, indo assim ao encontro do repto lançado pelo papa Francisco em setembro de 2015.

O desafio foi feito na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que decorreu a semana passada no hotel Jupiter, em Portimão, por Mariana Barbosa que substituiu o anunciado coordenador daquela organização, Rui Marques, que não pôde comparecer.

“Provavelmente o «presente» que [o papa] gostaria de receber no dia da sua visita seria que o seu apelo para que cada instituição acolhesse uma família de refugiados tivesse sido ouvido e tivesse tido resposta positiva em Portugal”, afirmou aquela responsável da PAR ao abordar a dimensão intercultural na segunda de duas mesas redondas que procuraram apontar as “Áreas prioritárias na Ação Pastoral da Igreja”.

Lembrando que Francisco “deu o exemplo” ao trazer para o Vaticano três famílias, aquando da sua visita a um campo de refugiados em Lesbos (Grécia) em abril do ano passado, aquela responsável que foi voluntária no mesmo local e que testemunhou ao vivo a visita do pontífice, considerou que o papa “tem sido, para crentes e não crentes, uma inspiração na defesa do acolhimento dos refugiados”.

Mariana Barbosa adiantou que neste momento já são mais de uma centena as instituições – entre associações, paróquias, centros sociais, escolas e juntas de freguesia –, que estão a acolher refugiados, sendo que cada uma acolhe uma família, num total de cerca de 500 pessoas. “Gostaríamos, quando o papa cá viesse, de ter mais 100 famílias acolhidas entre nós através da Plataforma”, desafiou, acrescentando que “ao contrário da maior parte dos países da UE, Portugal é um país que quer acolher e ajudar os refugiados”. “Portugal, do ponto de vista da recolocação de refugiados, tem sido um exemplo e um dos países que mais tem feito por isso”, afirmou.

Foto © Samuel Mendonça

A oradora disse ainda que “neste momento há famílias refugiadas que estão na Grécia e que querem muito vir para Portugal”. “Não temos onde as acolher”, lamentou, acrescentando que na PAR “a prioridade é o acolhimento de crianças acompanhadas pelas suas famílias”. “Neste momento está a começar a existir uma resposta para crianças desacompanhadas”, complementou, sublinhando que o “programa de recolocação” de refugiados tem apoio financeiro da União Europeia (UE).

Num panfleto distribuído aos membros do clero presente naquela formação, a PAR informou que as instituições anfitriãs deverão contatá-la, através do seu sítio www.refugiados.pt ou dos telefones 217960848/967884731, para a indicação da oferta de acolhimento. Posteriormente segue-se a assinatura de um protocolo com a formalização do compromisso e a participação numa ação de formação/preparação.

Mariana Barbosa lamentou que a UE não esteja a ser “muito solidária” na “hora de acolher”. “As pessoas não têm maneiras legais de fugirem da guerra e de encontrar refúgio”, criticou, testemunhando que os “barcos de borracha” que chegam à Europa trazem mais de 50 pessoas, sendo que “cada pessoa paga para vir nestas condições – em que muitas acabam por morrer – cerca de 1.000, 2.000 ou 3.000 dólares”. “Experimentei abrir os coletes [de salvação] e verifica-se que são falsos”, contou, lamentando não haver uma conjuntura legal que permita às pessoas outras condições para fugir da guerra e encontrar refúgio na UE. “São estas as condições em que as pessoas são obrigadas a tentar sobreviver”, observou.

A oradora lamentou ainda o acordo estabelecido entre a UE e a Turquia em março do ano passado para controlo da rota dos Balcãs que prevê o retorno ao território dos refugiados e migrantes irregulares. “Estive na Grécia antes do fechar das fronteiras e antes da implementação do acordo e regressei depois para implementar a missão da PAR. Quando as fronteiras estavam abertas as pessoas chegavam mal, mas aquilo que eu via era um brilho de esperança nos seus olhos porque sentiam que havia o sonho de chegar a um país de acolhimento”, testemunhou.

“Aquilo que se passa neste momento é que estão mais de 60 mil pessoas retidas na Grécia. Temos pessoas que chegaram em meados de março [de 2016] e estão desde essa altura a viver na UE em campos de refugiados sob condições muito más. Infelizmente há pessoas que já morreram de frio, o que é algo que não devia sequer ser concebível”, denunciou.

Mariana Barbosa explicou que o trabalho da PAR nestas condições “é uma ajuda de emergência”, desenvolvida, sobretudo, ao nível do apoio emocional. “Procuramos melhorar um bocadinho a vida destas pessoas nos campos. A nossa ajuda lá é vista como algo de muito bom. Mais do que a ajuda nos campos – porque é uma ajuda remediativa –, aquilo que queremos é dar soluções às pessoas. O que, verdadeiramente, queremos é retirar as pessoas dos campos e do frio e recebê-las”, destacou.

Foto © Samuel Mendonça

Aproveitando a presença do selecionador nacional de futebol Fernando Santos apresentou ainda um vídeo de agradecimento de jovens refugiados num campo da Grécia ao Cristiano Ronaldo pelo apoio que o futebolista português lhes manifestou.

A atualização do clero das dioceses do sul, que se realizou de 16 a 19 deste mês, tendo como tema “Levar Cristo às periferias humanas e existenciais: os novos areópagos”, contou com cerca de 120 participantes, incluindo, para além dos bispos das quatro dioceses, o bispo emérito da Diocese de Singüenza-Guadalajara (Espanha), D. José Sánchez González, que também esteve presente.