
“Muro de Olhão” é como a barreira que interdita a antiga passagem de nível pedonal da linha férrea em Olhão é conhecida pelos habitantes, que continuam a contestar a passagem inferior alternativa, em funcionamento desde outubro, exigindo soluções.
“Há pessoas que continuam a reclamar porque, neste momento, dois carrinhos de bebé não se podem cruzar numa determinada área, as cadeiras de rodas também não podem circular porque a inclinação é muito grande”, contou à Lusa a vice-presidente da Câmara Municipal de Olhão, Lucinda Rendeiro.
A Refer, empresa pública responsável pela rede ferroviária nacional, encerrou, em outubro, a passagem pedonal entre a Avenida Dr. Bernardino da Silva e a Avenida da República, junto ao centro da cidade, por considerar que o risco para os peões aumentou desde que os comboios passaram a circular com maior velocidade.
Apesar de sustentada na nova legislação em vigor, a decisão de passar a circulação de peões para uma passagem pedonal inferior através de um túnel onde passa uma estrada tem sido contestada pela população – que se queixa de a cidade ter ficado dividida ao meio -, o que levou a autarquia a estudar alternativas para apresentar à Refer.
Entre as várias hipóteses em análise pela autarquia, a introdução de alterações na passagem inferior poderá ser a mais viável, como, por exemplo, a redução da inclinação do percurso e o alargamento do passadiço para 1,6 metros, explicou a responsável.

“O túnel tem umas inclinações demasiado íngremes que provocam grande dificuldade de locomoção, principalmente aos seniores”, comentou o presidente da Junta de Freguesia de Olhão, Luciano de Jesus.
Os comerciantes, como é o caso de Benedita Benedito, proprietária de um snack-bar do lado sul da linha férrea, dizem que desde que a travessia superior foi proibida o negócio baixou. Na junta de freguesia, o serviço de enfermagem viu o número de atendimentos seniores da zona norte diminuir.
Maria de Lourdes Mascarenhas, com 70 anos, contou à Lusa que quando vai às compras e atravessa o percurso inferior fica mais cansada.
“Quando se vai para baixo ainda vai lá, mas quando venho para cima, cansada, é horrível” explicou, acrescentando que o novo percurso “faz muita diferença mesmo”.
O presidente da Junta de Freguesia de Olhão referiu ainda que a passagem superior já tem mais de 100 anos e nunca houve acidentes, razão que o leva a defender que se mantenha aberta até que a passagem inferior seja corrigida.
A interdição colocada pela Refer na antiga passagem continua a ser desafiada por pessoas que se recusam a usar a passagem inferior e acabam por pular a barreira e atravessar a linha, como assistiu a Lusa durante a reportagem.