A primeira das três formações previstas este ano para os animadores juvenis, promovidas pelo Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, explicou-lhes que tipo de responsáveis os jovens esperam que eles sejam e alertou-os que podem ser o único «Evangelho» que o jovem vai «ler», ou seja, “o único contato com Jesus Cristo que o jovem vai ter”.

Por isso, na formação intitulada “Acompanhamento – Fazer caminho com os jovens”, que teve lugar no Seminário de Faro no passado dia 08 de fevereiro, para aqueles responsáveis e para catequistas do 10º ano de catequese, a irmã Linda Vieira advertiu para a importância da relação pessoal com Cristo. “Quando não vivemos uma relação com Jesus, por mais que O preguemos, não vai passar”, alertou.
Aquela religiosa algarvia das Filhas de Maria Auxiliadora (salesianas) começou por considerar que a Igreja vive “um tempo extraordinário, um tempo de graça”. “Quem trabalha com os jovens têm estado a viver transformações muito grandes na Igreja”, afirmou, referindo que um “momento muito importante” foi o Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, que decorreu em outubro de 2018 em Roma.
“Quem trabalha com os jovens tem de saber o que aconteceu, o que se disse, o que se escreveu. Foi uma experiência grande encontro entre a Igreja hierárquica e os jovens que tinham coisas para dizer. Foi tão importante que hoje estamos a viver um Sínodo sobre a sinodalidade”, realçou, aconselhando a leitura da exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, ‘Christus Vivit’, que resultou daquela assembleia sobre a juventude e que disse ser “fundamental” para quem trabalha com jovens.

A formadora salientou que eles explicitaram no documento final do Sínodo que animador esperam e alertou precisarem de “adultos de referência, pessoas maduras, que amem mais os jovens do que a juventude”. “Queremos tanto ser jovens a vida toda que depois não mostramos aos jovens que é possível ser um adulto ou um velho feliz”, lamentou, garantindo que isso leva a que o jovem se sinta em “competição com o adulto”. “Querem ver adultos e não encontram”, completou, explicando que não deve haver uma “competição entre as gerações, mas uma complementaridade, uma relação, uma aliança”.
Por outro lado, e com recurso ao resultado de alguns inquéritos, a irmã Linda Vieira disse que os jovens esperam que o animador seja “um cristão, fiel, comprometido na Igreja e no mundo”. “Eles têm de perceber que temos uma posição em relação às coisas, que não somos neutros, que queremos a verdade, que queremos o bem comum. Querem animadores que não julguem, mas que cuidem, que escutem ativamente as necessidades e respondam com gentileza; um animador que se conheça, que sabe reconhecer os seus limites, conhece as alegrias e as tribulações da vida espiritual. Não perfeitos, mas pecadores perdoados”, sustentou, alertando: “Só quando escutarmos é que vamos conseguir falar a linguagem deles. Para isso, é preciso estar onde eles estão. Procurem conhecer mais sobre os jovens, estando com eles. É preciso cuidar a relação e a comunicação interpessoal”.

A consagrada disse ainda que é “preciso ser verdadeiro e coerente” e “cuidar muito bem o ambiente que acolhe”. “Quando preparamos o nosso grupo devemos ter este cuidado de ter um ambiente que acolhe bem, um espaço onde eles se possam sentir em casa”, aconselhou, pedindo ainda que possam “conhecer e aplicar dinâmicas de grupos e instrumentos adequados”. Desafiando a recorrer a diversas aplicações e sites, disse ser “muito importante valorizar a ferramenta telemóvel” e exortou à descoberta de algumas aplicações e ferramentas que podem utilizar com aquele dispositivo que os aproxima de Deus, ressalvando que a “grande ferramenta” é o animador.
“Procura crescer na amizade com Jesus. Reza. Cresce no sentido de pertença à tua Igreja, à tua comunidade. Celebra os sacramentos. Procura explicações para aquilo que não entendes na doutrina da Igreja. Deixa-te acompanhar na tua vida espiritual”, aconselhou ainda, lembrando ser “fundamental” a celebração da Eucaristia e da Confissão.
Sobre a Igreja, garantiu que os jovens esperam que seja “autêntica, transparente, acolhedora, honesta, convidativa, comunicativa, acessível, alegre, interativa com a comunidade”, um lugar onde “todos podem entrar sem se sentir julgados, sem sentir insegurança, mas sentindo-se amados”. “Querem também uma Igreja menos institucional e mais relacional, capaz de acolher sem antes julgar, uma Igreja amiga e próxima, uma família onde todos se sentem bem-vindos, ouvidos, cuidados e integrados”, reforçou.
Por fim, alertou para a importância de a pastoral juvenil ser simultaneamente “vocacional e sinodal”. “Uma pastoral juvenil que não é vocacional está doente. Uma pastoral juvenil que não ajuda os jovens a encontrar a sua vocação, não tem saúde”, alertou, considerando que a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa “foi também um tempo de graça extraordinário”. “Agora é aquela parte da sementeira em que as sementes estão debaixo da terra e não estás a ver nada”, comparou.
Deixando a “esperança” como nota final daquele encontro que, apesar da noite de forte intempérie, foi participado por quase meia centena de animadores de Monchique a Vila Real de Santo António, desafiou-os a não saírem dali sem decidirem um “pequeno passo possível”, algo que se comprometam a tentar “cuidar mais” de agora em diante.

No final, o assistente do Setor Diocesano da Pastoral Juvenil, padre Samuel Camacho, exortou os animadores a indicar jovens para integrarem os órgãos consultivos das suas paróquias e a manifestar junto dos párocos que eles devem participar porque têm uma palavra a dar.

O coordenador daquele organismo, João Costa, lembrou que a formação de animadores terá continuidade a 11 de abril e 06 de junho deste ano noutras zonas da diocese, a primeira mais dedicada a refletir sobre como integrar os jovens nas comunidades e a segunda a refletir sobre como ajudar os jovens com um acompanhamento mais vocacional.
